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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
:: Quem é quem » Atores» Carlos Adib (1944 - 1999)
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  É fácil ser nostálgico ao lembrar de uma época e de uma pessoa que foi representativa em sua vida. Falar do nosso Carlos Izaías Adib é falar de outro tempo. Um tempo em que ele e outros pioneiros, literalmente, inventaram o teatro infantil contemporâneo. Um tempo em que Monteiro Lobato era amado, e não quase queimado. Um tempo no qual crianças maiores implicavam com as menores e isso se chamava implicância. Um tempo em que nossos pais (ou só o papai, porque domingo era o dia dele...) nos levavam ao teatro, todos se divertiam, e as experiências ali vividas eram compartilhadas, e não ia cada um para o seu quarto com a sua televisão sintonizada em um canal diferente.

Sou uma criança dos anos 1970 na cidade de Niterói. Quem compartilha esse dado em comum comigo cresceu assistindo ao teatro infantil de Carlos Adib. Precursor desta manifestação artística que hoje é referência de qualidade para a cidade, Adib muito fez pelo nosso teatro.

No início de sua carreira, Adib bebeu na fonte do teatro de revista. Em 1977, na histórica adaptação de “O Sítio do Pica-pau Amarelo”, de Monteiro Lobato, pela Rede Globo, teve a oportunidade de participar do elenco regular como o Carteiro. Ali, Adib encontrou para sempre o seu público: as crianças. Para elas escreveu, atuou e produziu.

Além de atuar, Carlos dava, regularmente, aulas de interpretação, não só como fonte de renda, mas também pelo prazer em formar jovens atores. Como era da velha escola, a todos ensinava muito mais do que a mera atuação. Quem trabalhava com ele ao mesmo tempo atuava, era contra-regra, operador de som, carregador e malabarista. Foi assim que ele aprendeu, era assim que ele ensinava.

Esse fazer coletivo trazia muito do circo, que teve enorme influência em sua vida e obra e em sua forma mambembe de fazer teatro. É importante esclarecer que o termo não tem aqui a menor conotação pejorativa, e sim descritiva de uma forma de fazer comum a um lugar e uma época. Carlos Adib era um ator mambembe. Por definição e com excelência.

De sua obra, creio que a que mais ficou marcada na memória de Niterói tenha sido “A Onça e o Bode”. Para se ter uma idéia, fui a oitava Onça de Adib, e nós dois representamos essa peça amada por adultos e crianças por todo o Estado do Rio de Janeiro por 10 anos.

Houve também outras, como “O palhacinho da Loja ABC” e “O carteiro feliz”, mas a mais marcante, para mim, foi “A verdadeira história do circo”. Ali estavam as suas origens. Com essa peça, infelizmente, pouco conhecida e quem sabe definitivamente perdida, Carlinhos buscou resgatar uma história nunca escrita, porque eminentemente oral, e apresentou para as crianças dos anos de 1990 os queridos e já desbotados Chicharrão, Arrelia, Piolin e Carequinha. Que função! Que serviço a tantos: circo, teatro, platéias.

Autêntico e transgressor, era o melhor dos amigos, e caridoso a ponto de levar conforto a enfermos que sequer conhecia, visitando leitos e fazendo o bem. Marcante foi encontrar, em sua última década de trabalho, os anos de 1990, até três gerações de famílias que haviam assistido e amado a sua arte. A isso chama-se legado. O legado de Carlos Adib existe enquanto existem remanescentes das suas platéias e atores que com ele aprenderam a fazer e a amar teatro.

Depoimento: Andrea Terra