O
COMEÇO Comecei a fazer teatro na minha terra, no Pará. Meu avô era jornalista
e nos mudamos para Recife. Lá, ele me levou para a TV
Tupi e eu, aos 9 anos, cantei um fado. Depois, quando
nos mudamos para o Rio de Janeiro, fiz o Teatrinho Troll
na Tupi. Aos 14 anos, minha mãe pediu para deixar de
fazer teatro para estudar. Nessa época, meu avô se encantou
por Niterói e veio com a família para cá. Queria morar
em uma cidade que fosse parecida com Recife e encontrou
isso em Icaraí. Toda
a minha formação foi em Niterói: Figueiredo Costa, Batista
depois Liceu e UFF. Fiz também Conservatório Nacional
de Teatro.
No
teatro, gosto de tudo, porque você pode alcançar o seu objetivo
em termos de linguagem teatral usando vários estilos, sem
sair da sua fidelidade partidária com o estilo. Também sou
brechtniano. Se você me perguntar
se prefiro montar Brecht, "O
Circulo de Giz Caucasiano", ou Mario Prata e Nelson
Rodrigues, vou optar por Brecht. Gosto muito de Chico Buarque.
Sinto uma atração por montar Chico Buarque, mas me deparo
com 500 mil personagens. A sua mensagem é maravilhosa, autêntica,
além do humor, muito até. O que ele fez com a "Ópera doMalandro",
que é a "Ópera
dos Três Vinténs" do Brecht, é maravilhoso. Uma
é a adaptação da outra, só que com uma linguagem mais coloquial,
mais engraçada.
Então as pessoas riem mais, será que o riso é o que funciona mesmo? É
o apelo que nós como profissionais temos que buscar? O teatro
é político, todo teatro é político, a chanchada é política,
a comédia escrachada é política.
Quando o ator começa a perceber que existem vários estilos,
informação, caracterizações que se pode usar, abre-se um
leque ilimitado de possibilidades.
Sou um ator que participou de vários grupos: Laboratório, GRITE - Grupo Independente de Teatro - Corpo Vivo e depois
GRITE Corpo Vivo. Fiz também trabalhos solo em produções
alternativas.
PROCESSO
DE CRIAÇÃO
No meu processo de criação como ator, sigo um esquema: primeiro leio o
texto e começo a me ver como o personagem. Trabalho a caracterização,
mas já começando a me ver como o personagem. Então, vou
agir como personagem. Se falar com você, vou falar e agir
como a personagem. Antes do palco, a personagem já está
em mim.
Tenho que saber o que estou fazendo pra
saber o que vou fazer e como eu vou fazer. Com o texto na
ponta da língua, o personagem sai. Como diretor,
primeiro entrevisto todos os atores, um papo, uma
conversa. Nada sobre a peça. Falo sobre tudo, vida particular,
e só então trabalho a peça, sem leitura ainda. Trabalho
a idéia, trechos da peça, porque quando o ator pegar o texto,
já terá consciência do material. Deste modo, o que surge
é a improvisação, e só depois vem a
leitura completa do texto.
Aproveito
muito no meu trabalho a influência dos diretores com quem
trabalhei. Cada um foi muito diferente do outro. Faço, então,
um mix.A minha linha
de direção inclui Sérgio Viotti
e Luiz Mendonça. Meus alunos seguiram a mesma linha de direção.
Achei ótimo. Eles entenderam, e criaram algo diferente.
Há alguém que admiro muito, é o Dema (Ademar
Nunes) Questionei outros diretores, mas não conseguia questionar
o Dema. Ele sabia o que fazia, não falava bobagem. Trocava os
atores de personagens, como fez comigo várias vezes. Tirou
em A Peste
o Edson Benigno e me colocou em seu lugar. No espetáculo
" A Primeira
Epístola de Tiradentes" ( 1971) também tirou
o De Caz (Antônio Carlos De Caz)
e me colocou.
Na
peça " Tiradentes", um pouco antes da cena final, ele chega na coxia e põe a mão embaixo da minha túnica e tira minha sunga
e diz que eu vou ficar nu em
cena. Eu entraria nu.Ele sabia que o De Caz
não ia entrar nu. Eu trocava o manto branco pelo manto preto,
aí vem Dema por debaixo da minha
túnica, puxa a minha sunga. Queria mostrar a minha emoção
ao público, meu personagem, aí quando subo no tablado e
digo: “Se dez vidas tivesse, dez vidas daria pelo bem da
humanidade”. Aí, pronto, tirei tudo. Foi o primeiro nu que
o ator não sabia que ia ficar nu.
A NOVA GERAÇÃO
Em
Niterói, as Leituras Dramatizadas, que estão no terceiro
ano no Teatro Municipal, são um caminho possível para os
atores que estão começando.
Não
consigo ver leitura separada de espetáculo. Começo a ver
que a leitura saiu da sala para o palco, para o público.
Esse ano percebi em todas as leituras
um espetáculo montado. O que falta é coragem. Coragem do
poder público em assumir, porque nós temos coragem, tanto
temos coragem que estamos peitando.
Meu trabalho em Niterói foi através do teatro na educação, que me fez
voltar. A sede era muito grande. Acredito que se a gente
fizer uma força muito forte, se trabalhar com esses alunos,
consegue reerguer o teatro. Sem essa história de muita fantasia
ou o lado oposto, muito negativismo: “Ah!, não dá, ah!, não posso, ah!, não vão abrir mais o Teatro
Municipal”. Claro. Não vão porque não se está insistindo.
A procura é muito grande, pode-se ver pelas leituras dramatizadas.
Fiquei espantado. Não acreditei que numa das leituras tivesse
um público de 100, 150 pessoas. Foi muito mais, foram quase
400. Isso me deixa muito feliz.