Meu
primeiro contato com as artes foi aos 8 anos. Meu vizinho
era o Mágico Mick Baby, que trabalhava no Circo
do Carequinha, na TV Tupi, e cuja esposa era madrinha
da minha irmã mais nova. Um dia ele resolveu criar
um circo que usasse os seus filhos e outras crianças.
Criou, então, o “Grand Circo Los Bambinos”.
Com ele, a gente se apresentava em clubes e ginásios,
e ensaiava às vezes na casa dele, ou em algum salão,
ou então no Clube Canto do Rio. Eu fazia uma dupla
com meu irmão Mauro: Torresmo e Torresminho. Meu
irmão mais velho trabalhava no circo também.
Era palhaço. Ficamos quase dois anos nessa brincadeira.
Acendeu,
então, um paviozinho lá dentro, mas, passado
um
tempo,
eu só voltaria a fazer teatro na Faculdade de Arquitetura.
Não conhecia ninguém de Niterói. Minha
faculdade era no Rio, em 1975. No fundo, pensava no teatro,
mas como uma coisa distante. A primeira pessoa que conheci
de teatro foi o Francisco Falcão, antes da faculdade.
Ele me convidou para assistir alguns ensaios do “Macaco
Simão”, e me chamou para fazer o leão.
Fiz apenas uma leitura, mas a minha amizade com ele continuou.
Depois, ele me chamou para trabalhar com ele e com a Marga
Abi- Ramia, no Rio.
Quando fiz a minha transferência da Gama Filho para
o Benett, conheci o Raul Marques, que era o professor, e ficamos
amigos. Ele me falou que tinha vontade de criar um grupo de
teatro, e criou mesmo, mas como se fosse um curso, porque
ninguém tinha experiência. Muito exercício,
muito laboratório. Montamos “Se os Olhos
Reaprendessem a Chorar Haveria um Segundo Dilúvio”,
espetáculo físico, corporal, criação
coletiva, sem autor. Um trabalho com muita malha, esteira
de palha, cenário e figurino cor de carne. Isso em
1977. Foi muito bom para a gente se soltar: muito trabalho
de corpo, muito exercício e pouquíssimo texto.
No segundo ano, montamos “Alice do Outro Lado do
Espelho”, de Lewis Carroll. Chamei o Luis Moretti
para fazer Alice. A gente se apresentava no teatro maravilhoso
do Benett. Aí eu já tinha decidido que queria
fazer teatro, que queria continuar, mas tive um desentendimento
com o diretor e resolvi sair.
Então o Luiz Moretti me chama para um grupo em Niterói,
dirigido pelo polonês Moisés Cawa, judeu, e com
sequelas físicas por conta da guerra. Ele já
era idoso, e morava na rua Moreira César. A gente ensaiava
naquele Clube Judaico, na Lemos Cunha, e nessa sede tinha
um salão grande e um palco. Lá montamos o texto
da Maria Adelaide Amaral,“A Resistência”,
e logo depois montamos “O Inspetor Está Lá
Fora”, do J. B. Priestley. Fizemos duas peças
em menos de um ano e meio, uma atrás da outra.
Nessa época, David Varella bateu lá em casa
para fazer o texto do José Maria Jardim, “Sangria
Desatada”, com direção de Ademar
Nunes, o Dema. No elenco estavam: David Varella, Claudia Netto,
Thiago Monteiro e Geraldo Marcos. Mas “Sangria...”
não saiu, e resolvemos mudar de texto. Nisso o tempo
passando, e o teatro Leopoldo Fróes já estava
marcado para a gente. Foi então que Dema sugeriu “Bye
Bye Pororoca”, do Timochenco Wehbi. Nessa época,
meu colega Ricardo Sanfer já trabalhava com a Maria
Jacintha, e ela me chamou para trabalhar. Fiquei um tempo
lá e ensaiei a “Canção Dentro
do Pão”, mas quando eles estrearam eu não
estava mais com eles, porque não dava pra conciliar
os dois ensaios.
Nunca tive um grupo só, eu fiquei um tempo com cada
grupo. Eu fui independente, eu não sou de uma companhia
fechada.
Logo depois, fiz “Do Beco ao Império”,
no grupo Mussangulá, do Evans Brito. Ensaiamos
“Do Beco ao Império” alguns meses.
No elenco estavam a Rita, o Antonio Guedes, o Evans, o Ednaldo
Eiras, e outros.
Fui indicado pelo desenhista Ildon Nascimento para fazer “Marginal”,
com o Eri Johnson e o Fábio Máximo. A gente
ensaiava na Tijuca e a pré-estréia foi no Teatro
do Instituto de Educação. O diretor era o Roberto
Marz. Tinha o Zé Sarmento, que foi o prefeito do Sítio
do Pica-Pau Amarelo, a Ilva Niño, o Eri Johnson, a
Bia Gemal e o Fábio Máximo.
Nessa mesma época, comecei a fazer aulas. Fui da primeira
turma de atores na Escola de Circo, na Praça da Bandeira.
Comecei também a fazer aula de dança aqui em
Niterói. Fiz os cursos da Claudia Araújo e da
Lúcia Helena. Não fazia para ser bailarino,
mas para trabalhar o corpo. Fiz impostação de
voz com a Cleide Galvão, e depois com Maria Domícia.
Curso de teatro fiz com Aderbal Freire-Filho, José
Celso Martinez Correia, Luiz Antonio Martinez Correia e Felipe
Wagner. Curso de vídeo com Wolf Maia.
Nos anos 1980 tudo fervilhava em Niterói. Além
do que acontecia no Leopoldo Fróes – do qual,
aliás, eu cheguei a ser diretor –, você
respirava arte, e não só o teatro, com espetáculos
como “Barca das 7”, “Seis e Meia”...
A dança também fervilhava, e as artes plásticas,
e a música... era uma loucura! A cultura rolava livre.
Mas em 1989, parece que esse clima acabou, e as atividades
diminuíram muito, porque o governo seguinte não
deu continuidade a nada. Para ser ter uma idéia, antes
de fechar o Teatro Municipal para obras, quando o Carlos Couto
ainda era o diretor, um monte de coisas rolava lá.
Poesia, ensaios... Nessa época, que coincidiu com o
final do Leopoldo Fróes, fiz um levantamento de grupos.
Eram 27 atuantes na cidade, isso sem falar dos outros que
eu não conhecia. Logo depois desse período,
a maioria sumiu, e hoje, só alguns grupos permanecem.
Mesmo assim, eu não desisto.