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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
:: Quem é quem » Atores» Zé Gamela - Divaldo Ribeiro (1914- 2002)
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A história de Zé Gamela começa em Vila Wagner, em Lençóis, na Bahia. Filho de cangaceiro (comprador de pedras preciosas), aos 13 anos Zé começa a vida como garimpeiro. Do garimpo se torna cangaceiro, e depois se engaja como uma liderança política nas causas revolucionárias, sendo perdoado em 1930, e ocupando, em muitas memórias, o lugar de herói.

O seu currículo profissional é vasto. Zé Gamela já foi quase tudo: garimpeiro, cangaceiro, aprendiz de marinheiro, sargento, carregador de malas, administrador de empresas, jornalista,

gerente de hotel, autor e contra regra.

Mas Zé Gamela também foi ator e diretor de teatro, além de cordelista com mais de 200 cordéis escritos. Há muitos anos mambembando pelo Brasil afora com os mesmos sonhos, dezenas de peças de teatro (destacando-se as apresentadas no gênero revista, como: “Rumo ao Ingá”, “Garotas do Bambolê”, “O Negócio é Fofoca”, “Cartões Turísticos de Niterói”), além de oito circos que ele mesmo construiu, também foram alguns marcos de sua trajetória.

Verdadeiro “vendedor de ilusões”, saiu do Nordeste com Dety, que com quem foi casado por mais de 40 anos, sempre acreditando que o teatro era do povo. Como ele mesmo disse em matéria para o Jornal A Tribuna, de 9 de março de 1989, a idéia de um Teatro Experimental do Trabalhador (TET) era fruto de um sentimento saudosista:

“Quero devolver a arte ao povo. Hoje em dia ninguém tem condições de entrar num teatro desses atapetados! Quero o simples, fazendo peças que o povo ria e entenda.
No decorrer desses anos, sem temer desilusões, oito circo construímos, em forma de pavilhões, com palcos picadeiros onde ganhavam vida nossos roteiros de promover as mensagens dos artistas brasileiros. Depois de tantas viagens num bonito mambembar, nesta cidade sorriso escolhemos para morar, e com amor que constrói fundamos em Niterói o teatro popular. Jamais nos foi concedida oficial cobertura, apoio ou subvenções dos tais órgãos da cultura, que ate hoje são brinquedos, e cabides de empregos, dessa falida estrutura.”.

A História do Teatro do Trabalhador começa, assim, em 1956, onde hoje é a sede da Caixa Econômica. Nos dois primeiros anos o teatro era patrocinado pelo SESI, que dava ao teatro um financiamento de 15 mil cruzeiros. Com o lançamento da candidatura de Roberto Silveira a governador, pelo PTB, o grupo do TET tornou-se fã do candidato e passou a apoiá-lo de frente, montando inclusive uma peça (“Rumo ao Ingá”), que lançava publicamente o candidato. Com a vitória de Silveira, a subvenção foi cortada e o governador passou a apoiá-lo através da Loteria do Estado.

No entanto, a perseguição ao TET não parou com a ascensão de Silveira. Togo de Barros, na época presidente da CEF, requereu o despejo do teatro, em represália ao governador. O TET foi para o Fonseca, e depois para Campos, a pedido do Governador. Lá, sobreviveu até a morte de Roberto Silveira.

Celso Peçanha, que assumiu no lugar do antigo governador, e na condição de opositor ao PTB, mandou suspender a ajuda da Loteria. Zé conseguiu ainda manter o TET por três meses, não vendo outra alternativa que não a de vender tudo. Pagou os artistas e operários que trabalhavam, e hibernou o seu sonho.

Dos fatos mais significativos da história do Teatro do Trabalhador, Zé lembra o dia em que ele e todo elenco foram presos, em plena Av. Amaral Peixoto, tudo porque barrou um soldado que insistia em querer entrar numa encenação na qual ele aparecia fantasiado de Cristo, Dety de Virgem Maria, e outros atores de outros santos.

Em 1991, estréia no Teatro Leopoldo Fróes o espetáculo “Agora eu Vou Contar”, um humorístico que trouxe de volta aos palcos o ator Zé Gamela e sua esposa depois de longos anos afastados do teatro. A peça foi apresentada nos dias 6 e 7 de outubro, com uma variedade de números cômicos e paródias políticas tais como: “É Tempo de Eleição”, “Futebol Político”, “O Buraco”, “O Pacote da Previdência”, “Historiando a História”, entre outras.
O espetáculo era uma homenagem ao comediante Leopoldo Fróes, nascido ao dia 30 de setembro de 1882 na casa n°2 da antiga Rua de São Francisco, em Niterói. No elenco, sob a supervisão de Mário de Sousa a filha de Zé Gamela, Solange Morse, com o marido, Niraldo Morse.

O ator e autor Zé Gamela, assim, dos seus oito circos, trabalhou também nos circos Garcia, Tyane, Merine e Teatro-show, tendo atuado nas companhias de Vicente Celestino, Jayme Costa, Silva Filho e Mesquitinha, sempre ao lado de Dety.

- Depoimento Mario de Sousa