Nasci
em 1979, ano da fundação do Grupo de Teatro
Papel Crepom. Cresci em um universo mágico, cercada
por pessoas engraçadas que brincavam comigo a
toda hora e que de repente se transformavam em outras
pessoas quando os ensaios começavam. Ficava maravilhada
com a energia e a agitação daqueles jovens,
e procurava não perder um ensaio. Já com
três ou quatro anos, chegava a me esconder para
poder assisti-los. Gostava tanto das peças que
sabia todas as falas dos personagens, e foi isso que
me ajudou a ingressar nessa aventura.
Em 1984 o Grupo Papel Crepom encenava um espetáculo
chamado “Sururu no Galinheiro”,
que falava sobre a vida de várias galinhas, filhas
de chocadeira, que sonhavam com a oportunidade de um
dia chocarem um ovinho. Nesse
espetáculo
tinha um personagem chamado galinho Zico, que na época
era feito por uma criança de uns oito ou nove anos.
Passada a temporada no teatro surgiu um projeto de última
hora para esse espetáculo, mas a criança que
fazia o pintinho não estava na cidade, já que
havia viajado com a família. Pronto, estava criada
a situação ideal para a minha estréia
na vida artística. Pedi ao meu tio – Eduard Roessler,
diretor do Grupo Papel Crepom – para que me deixasse
fazer esse projeto, e ele, sem levar muita fé, autorizou,
desde que eu o deixasse falar o texto caso eu não lembrasse.
Para a surpresa dele, e de toda a minha família, falei
o texto sem precisar de ajuda. Consegui terminar o espetáculo.
A partir de então, minha vida artística começou
a se desenhar com o Papel Crepom. Encenava dois ou três
novos espetáculos por ano, e em cada um deles meu tio
destinava a mim um papel que conquistava o público
por ser encenado por uma criança tão pequena.
Fui a fada Sininho em “Peter Pan”, a
Princesinha do Mercado, em “Aladim”,
a Princesa Aurora na fase criança e um coelho muito
esperto e engraçado em “A Bela Adormecida”,
até protagonizar “Annie a Pequena Órfã”,
em 1988. Em 1989, com nove anos, fiz um teste para a novela
“Ana Raio e Zé Trovão”,
e para a minha surpresa, fui escolhida para fazer a Malvina,
irmã de Ana Raio em sua fase de criança. Mas,
infelizmente, devido à falta de tempo e de ter um responsável
que me levasse aos inúmeros testes, não consegui
dar continuidade à minha carreira televisiva.
Sempre consegui conciliar meus estudos com o teatro, e, como
prêmio, era autorizada a acompanhar o meu tio em suas
oficinas teatrais. Sentada na garupa da sua bicicleta, rodávamos
Niterói, ele dando suas aulas e eu aprendendo e, de
certa forma, incentivando a formação de mais
atores mirins.
Nunca fiquei longe dos palcos, e a transição
de adolescente para adulta foi feita gradualmente. Fui passando
por quase todos os personagens dos espetáculos de que
já havia participado, até me tornar apta para
um papel adulto: de Sininho à Wendy, de Ratinha à
Cinderela e, finalmente, o posto de mocinha oficial do grupo.
Em 2002, fiz um papel que caiu como uma luva para o meu tipo
físico: Branca de Neve. A peça foi um sucesso
tão grande que em sua estréia pessoas voltaram
para casa, pois não havia mais lugar dentre os 530
lugares do Teatro Abel. Tinha que dar adeus pela janela para
que as crianças não fossem embora muito tristes.
O sucesso desse espetáculo se repete até hoje,
apesar de quase dez anos em cartaz.
Espetáculos adultos também me atraíram.
Quando pequena, não perdia uma estréia do grupo!
Minha mãe me escondia no balcão do Teatro Leopoldo
Fróes, e assim eu podia dar boas gargalhadas junto
com o público adulto. Quando cresci, é claro
que aqueles espetáculos não poderiam ficar de
fora de minhas experiências. Participei de “Sangue,
muito Sangue”, “Facetoface”
e “A Dama do Camarote”, em papéis
cômicos. Faltava em minha carreira um papel dramático,
e foi então que, comemorando os trinta anos do grupo,
montamos o clássico “Romeu e Julieta”,
de Shakespeare. Uma experiência inesquecível
e muito enriquecedora como Julieta.
Quando terminei os meus estudos escolares, começou
um dilema: o que estudar agora? Por saber sobre as incertezas
da carreira artística, pensei num plano B, caso as
coisas não dessem certo. Foi assim que, mais uma vez
incentivada pelo meu tio, ingressei no curso de Economia da
Universidade Federal Fluminense. Posso dizer que passei toda
a minha história acadêmica pensando em como agregar
esse conhecimento ao que eu realmente fazia. Para a minha
felicidade, já quase no final do curso, encontrei um
caminho: investir nos estudos sobre a economia da cultura,
sobre o que falei no meu trabalho de conclusão de curso.
Hoje me dedico integralmente às atividades no grupo.
Dou aula de teatro para crianças, atuo nos espetáculos,
e ajudo o meu tio nos novos projetos. Recentemente, tive a
alegria de descobrir que a nossa afinidade com os palcos é
praticamente um traço genético. O que começou
com o meu tio foi seguido por mim e, posteriormente, pelo
meu irmão Willy, e agora já começa a
atingir a terceira geração da família
Roessler. Ao que parece, meu filho Victor e minha sobrinha
Anna Clara, que também já estão cursando
a nossa oficina e participando de nossas montagens, têm
tudo para seguir os nossos passos e dar continuidade ao nosso
trabalho. Estamos presenciando a terceira geração
da nossa família a serviço da arte.