Muitos
anos depois, causou-se com Serafim Romão Botelho, também
amador e membro da Comissão do Teatro Municipal de
Niterói. Radicou-se em Niterói, onde muito fez
em prol do engrandecimento do nosso teatro amador. Foi amadora
e diretora do Clube Dramático Fluminense, trabalhando
por longos anos ao lado de João Pinto, outra expressão
brilhante dos nossos intérpretes. Nesse clube, criou
inúmeros papéis de sucessos e, quando diretora
artística, montou com grande sucesso a comédia
“Mimosa”, do grande e não menos
saudoso Leopoldo Fróes. Deixando o Clube Dramático,
criou o seu próprio grupo, que se denominava “Laura
Botelho e seus artistas”, cujos sucessos dos seus espetáculos
ainda vivem na memória de todos. Foi o primeiro grupo
niteroiense a fazer teatro infantil de gente grande para gente
pequena em nossa capital, levando à cena a fantasia
infantil “A Princesa Cigana”, onde colheu os louros
dos mais acalorados elogios da crítica desta cidade
e da vizinha capital, tal a arte com que viveu o papel a seu
cargo.
Mas não ficou aí o trabalho e o dinamismo de
Laura Botelho. Talvez adivinhando o pouco tempo que lhe restava
na vida terrena, quis deixar algo para a nossa capital, e
com a colaboração de amigos dedicados, transformou
o seu grupo Laura Botelho e seus artistas no Teatro Fluminense
de Comédia, que na sua estréia, com a peça
“Mas que mulher”, marcou o maior sucesso
de teatro amador do seu tempo em Niterói. A última
peça que representou foi a fantasia infantil “A
Princesa Cigana”, em benefício das obras
do nosso Teatro Municipal. O último espetáculo
a que assistiu foi “Divorciados”, levado à
cena pelo Clube Dramático Fluminense. Sem se descuidar
dos seus deveres de esposa, mãe e amiga, foi uma vida
inteiramente dedicada ao teatro. Suas últimas palavras
para os componentes do Teatro Fluminense de Comédia
foram para que este não parasse. E em suas palavras
textuais, assim ordenou: “Substituam-me. Substituam
a peça. Mas não parem!”
Fonte:
Acervo Marisa Alvarenga - Texto de Luiz Maia, 05 de agosto
de 1952 (adapt.).
Depoimento
Silvio Fróes
Quando tinha quatro anos, já vivia em camarim, coxia...,
tudo por causa de tia Laurinha (Laura Botelho) e tio Romão
(Romão Botelho), que era o marido dela - um canastrão,
como ela mesma dizia. Ele não era muito bom, mas ela...
excelente!
Tia Laurinha fez um filme com Bibi Ferreira, tendo sido escolhida
pela própria pra fazer a antagonista. Bibi veio aqui
ver tia Laurinha e a convidou pra fazer.Infelizmente, esse
filme não existe em lugar nenhum, porque a cópia
se perdeu, se queimou.
Ao contrário do que dizem alguns, tia Laurinha não
fazia só peça infantil, não, tendo inclusive
fundado um Grêmio Dramático junto com João
Pinto.
Nesse Grêmio Dramático aconteceu assim: as pessoas
foram namorando, se casando, e no fim foi uma confusão
de “Botelho Calheiros” e “Calheiros Botelho”.
Minha mãe, por exemplo, tinha uma prima que era prima
pelos dois lados, isto é, tanto pelos Botelho quanto
pelos Calheiros. Todos os primeiros namoros tiveram início
ali no teatro, e também ali as gerações
foram continuando, entre filhas e netos...
Minhas irmãs fizeram teatro amador com tia Laurinha.
A sede do Grêmio Dramático era o Teatro Municipal
de Niterói, e ela fazia produções...
Não sei se naquela época os comerciantes contribuíam
com o teatro amador, porque fazia-se produções
com cenários absurdos e tudo profissionalíssimo,
mas ainda assim partindo de um grêmio amador, onde ninguém
recebia: trabalhava-se por amor à arte.
Mas embora todo mundo tivesse outras profissões, tia
Laurinha não, ela era atriz. Gabi Calheiros é
sobrinha dela, eu seu sobrinho-neto.
GREMIO
DRAMÁTICO FLUMINENSE
Depoimento: Gabi Calheiros
Início do século do XX: Grêmio Dramático
Fluminense. Dele fizeram parte meu pai Arthur Calheiros, minha
mãe Eulina Botelho, e meu tio Romão Botelho.
Teatro Amador .
Nesse grêmio alguns atores, ao contracenarem juntos,
iam encontrando pares até se casaram, como minha mãe
e meu pai, e como tio Romão e Laura Calheiros.
Em 1907, mais ou menos, a peça “A Florista”,
assinada pelo autor teatral da época Quaresma Junus,
foi estreada com Romão Botelho, que desentende-se com
a noiva (Laura Botelho), sai do grêmio e ingressa no
Niterói Club – um grupo teatral firmado por Euclides
e Rodolfo Ferreira da Silva, Machado Macaco, Facutinga, Olavo
e Chiquito Bastos, Regina e Dalila Sá, entre outros.
No entanto, pouco tempo depois Romão faz as pazes com
a noiva e volta ao grêmio, apresentando-se nas operetas
“A Noiva”, “Cólicas
de Matheus” e “Véspera de Reis”.
Depois do casamento com Romão Botelho, Laura passou
a ser conhecida no mundo teatral como Laura Botelho e assume
um papel importantíssimo, sendo chamada a grande atriz
dramática niteroiense.
À época, João Pinto Rodrigues e seus
filhos, junto a Romão, Laura Botelho e os filhos do
casal – Lucia, Murilo e Bil (José Luis) –
apresentam várias operetas. Entre elas, “Os
Sinos de Corneville”, a que assisti várias
vezes, por volta de 1932.
Além dessa, lembro-me de ter assistido também
a peça “Onde canta o sabiá”.
Que sucesso!
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