Quando
era criança foi detectado em mim, através
de exames feitos e várias consultas com a logopedista
(a fonoaudióloga, naquela época), que eu
tinha dislexia e dislalia. Em outras palavras, eu tinha
dificuldade em articular palavras e decodificá-las
(compreendê-las). Esses transtornos fazem a criança
ter um comportamento diferenciado: ela fica mais aérea,
se desinteressa pelos estudos (principalmente pela leitura),
não se concentra nas atividades, etc. Por isso,
meu desinteresse por estudo era imenso, e pela leitura
então nem se fala.
No entanto, minha mãe, até por ser professora,
nunca deixou que eu me desinteressasse por completo. Sempre
comprava livros interessantes e a maioria das vezes lia
comigo, porque sabia o quanto eu gostava de ler e o quanto
eu tinha dificuldade. Ela ia usando vários artifícios
para que eu lesse um pouco mais e mais, e assim foi até
eu completar os estudos na escola.
Quando acabei o 2º grau, não sabia o que queria
fazer. Eu tinha interesse profissional por várias
áreas e não conseguia focar em uma. Fiz
vários cursos, prestei vários vestibulares,
até que um dia um amigo falou que eu era muito
teatral, e pediu que eu ensaiasse para uma apresentação
na rua. Daí em diante minha vida começou
a mudar.
Meu primeiro curso de teatro foi o Tablado, com aulas
de expressão corporal, voz e interpretação.
Meu interesse pelos estudos se modificou, minhas atitudes
comportamentais eram outras, e em pouco tempo deixei de
ser aquela pessoa aérea e desconcentrada.
Comecei a ter uma nova relação com o mundo:
minha dificuldade em leitura foi diminuindo (até
porque eu tinha que ler um texto teatral pelo menos a
cada semana!) e o ato de ler deixou de ser maçante,
pois tinha troca com os amigos, tinha compreensão
do que estava sendo dito. Sempre tinha alguém para
me auxiliar ou para trocar, ainda que ficasse com vergonha
pela má leitura. Foi difícil, mas mesmo
assim não desisti. O teatro já tinha me
possuído. A viagem era sem volta.
Em 2002 fiz um teste de leitura dramatizada para um curso
oferecido pela Fernanda Montenegro, no Sesc de São
João de Meriti. Fui à única moradora
do Município de Niterói que passou. O curso
foi muito proveitoso, e deixou frutos. A própria
Fernanda pediu muito para que os participantes do curso
defendessem a leitura dramatizada, principalmente nas
escolas. Foi uma semana mágica, e eu aprendi muito
com ela – com sua paciência, seu carinho pelos
alunos, sua dedicação e, sobretudo, o amor
à arte.
Quando o curso acabou eu estava cheia de idéias.
Em pouco tempo montei o projeto de Leitura Dramatizada,
que ganhou o nome “Leituras sem barreiras”.
Esse nome foi dado porque acredito que todas as pessoas
devem ter o direito de ler ou escutar uma boa leitura.
Na mesma época, inaugurei com meu amigo Moacyr
Castilho o Espaço Cultural Tribo Urbana. Oferecíamos
diversos cursos ligados à arte e fazíamos
apresentações mensais de leitura dramatizada.
As apresentações ficavam cheias e sempre
contávamos com intérpretes de surdos (muitas
vezes era nosso maior público). O projeto tomou
força e não cabia mais dentro do Tribo Urbana.
Apresentei o projeto para Sohail Saud e imediatamente
as portas do Teatro Municipal de Niterói se abriram.
Foi o primeiro projeto de Leitura no Municipal (2005),
sempre acompanhado de intérprete de surdos.
A cada ano melhoro um pouco na leitura, e embora ainda
tenha dificuldade, sempre estou esperta e procurando melhorar.
Hoje em dia, tudo é mais claro pra mim. Compreendo
a dificuldade que tive e o teatro foi fundamental na minha
vida. Observando a minha trajetória, agora acho
que preciso atingir outros objetivos na minha profissão.
Sei que com a ajuda da fonoaudióloga vou melhorar
ainda mais. Com certeza isso vai facilitar a minha vida
pessoal e profissional. Segundo ela, o teatro transformou
a minha vida, e que posso me considerar uma pessoa vitoriosa,
pois sem o teatro eu provavelmente teria estagnado, não
teria conseguido evoluir com o tempo.
Claro que ainda preciso vencer muitas barreiras, como
passar para faculdade de teatro que tanto desejo e me
estabilizar em minha profissão, mas, em minha opinião,
eu estou no caminho.