Maria
Jacintha Trovão da Costa Campos (Cantagalo, RJ,
1906 – Niterói, RJ, 1994), autora, crítica,
ensaísta, tradutora e diretora, participou do
período de modernização do teatro
brasileiro, trabalhando no Teatro do Estudante do Brasil
(TEB) e fundando o Teatro de Arte do Rio de Janeiro
e do Teatro Fluminense de Arte.
Em Niterói, o reconhecimento pela sua contribuição
ao desenvolvimento cultural da cidade pode ser verificado
nos teatros da UFF e da
Associação
Médica Fluminense, que lhe renderam homenagens em placas
afixadas em seus salões principais.
Sua carreira como teatróloga começou quase por
acaso. Disposta a escrever um romance, verificou que seu estilo
era teatral, recheado de diálogos.
Tendo Benjamin Lima como seu primeiro grande incentivador,
em 1940, sua primeira peça, intitulada "O Gosto
da Vida", era encenada no Teatro Rival pela Companhia
Jaime Costa, garantindo à Jacintha lugar privilegiado
nas colunas de crônica teatral de todos os jornais do
país.
Apesar do sucesso ter sido imediato, o rigor da censura do
Estado Novo também assim o foi. Perseguida, assim,
por membros do clero e da Ação Integralista
Nacional, viu sua temporada suspensa pelo Ministério
da Educação (poucos anos mais tarde tornado
Ministério de Educação e Cultura), que
na condição de patrocinador da turnê do
grupo, suspendeu a temporada.
No entanto, foi driblando a censura que, do Norte, partiria
a Companhia Iracema de Alencar, responsável por encenar
outra peça da autora: "Doutora Magda". Segundo
Maria Jacintha, “esta sim é que deveria ser censurada
pelo DIP e não foi”. Durante toda a temporada
do espetáculo, a personagem principal transformou-se
em símbolo da juventude brasileira: a doutora Magda
passou a ditar moda e todas as jovens queriam vestir-se e
se comportar de modo irreverente como ela.
Logo a seguir vieram diversos sucessos de público e
crítica, como "Convite à Vida" e "Conflito",
encenados pela Companhia Dulcina-Odilon.
Em 1948, cansada do medo que as companhias sentiam de encenar
suas peças por causa de censura, Maria Jacintha montou
sua própria companhia: o Teatro de Arte do Rio de Janeiro,
que com pouco tempo de existência passou a ser considerado
"a maior realização acontecida em palcos
cariocas, nos últimos 40 anos, quer por companhia nacional,
quer por companhia estrangeira".
Artistas como Nicette Bruno, Fernanda Montenegro, Mauro Mendonça,
Beatriz Beatriz Segall, Mauro Mendonça, Isaac Bardavid,
Felipe Wagner e Cacilda Becker despontaram nos palcos do TARJ,
e seus trabalhos motivaram o grande reconhecimento de que
gozaria a companhia ao longo dos anos.
Mesmo assim, Maria Jacintha negava-se a aceitar o título
de "diretora reveladora de novos talentos" que lhe
conferiam. Para ela, lançar artistas era uma espécie
de conjunção astral. "O povo precisa do
espaço, e nós, que temos o espaço, precisamos
dele", revelava. O talento, segundo a escritora, era
o ingrediente único e imprescindível para um
artista fazer sucesso, e “nós não damos
talento a ninguém”, dizia.
"Dias Felizes", de Claude Puget, e "Alegres
Canções na Montanha", de Giullian Michair,
eram as peças favoritas da escritora para lançar
novos elencos. Nelas, a juventude era o tema central, pois
os conflitos reinantes atravessavam os tem¬pos. Aos olhos
de Maria Jacintha, esse era o motivo que tornava essas peças
eternas e, portanto, adequadas ao estreante. Em suas palavras,
“É um engano pensar que as peças clássicas
é que são as ideais para formar jovens talentos.
O mais difícil é imitar nossas próprias
verdades”.
Detentora de vários prêmios, inclusive a primeira
colocação no Concurso de Peças Teatrais
promovido pela Academia Brasileira de Letras, seu grande sonho
era tornar o teatro nacional tão grandioso como antes
do Golpe de 1964. Para ela, os jovens não haviam tido
o direito de assistir aos grandes espetáculos que visitaram
o Brasil em décadas passadas e, por isso, teriam perdido
o senso crítico. Nesse sentido, questionava: “Como
é que eles vão comparar o que é bom e
o que é ruim e, a partir daí, criarem?”.
Embora estivesse ligada às atividades teatrais do Rio
de Janeiro, Maria Jacintha sempre desejou que Niterói,
cidade onde vivia, tivesse um teatro próprio, que denominou
de Teatro Estável de Niterói. Segundo plano
apresentado aos Conselhos Municipal de Cultura e à
Fundação de Atividades Culturais de Niterói
(FAC), o Teatro Estável de Niterói passaria
a fazer parte das atividades culturais da cidade no sentido
de dar à comunidade niteroiense mais uma área
de cultura e diversão de alto nível entre as
muitas que vinham sendo desenvolvidas. E assim aconteceu:
no dia 6 de dezembro de 1978, a apresentação
da peça Anfitrião 38, de Jean Giraudaux, marcava
sua estréia.
Mas, apesar dos esforços da dramaturga, o Teatro Estável
de Niterói não logrou vida longa. Por motivos
alheios à sua vontade, o sonho de um teatro próprio
de Niterói não iria muito longe, como descrito
pela própria dramaturga: “Sempre optei por plantar
onde não há. E além disso, sou fluminense,
de nascimento e de raízes, e confesso certa humilhação
quando vejo que todas as capitais e grandes cidades do Brasil
e, mesmo, pequenas cidades, têm seu teatro próprio
(...). Na atuação de toda a minha vida literária
e artística, no Rio de Janeiro, sempre sonhei em poder,
um dia, dar um bom teatro a Niterói, aqui sediado,
com sua população vendo teatro, freqüentando
teatro, gostando de ver teatro e incorporando-o ao cotidiano
de sua vida. Não mais o teatro episódico, em
termos de festival, vindo de outras cidades...”
» Diretora “A mim, sempre pareceu muito pretensioso e,
sobretudo, muito empresarial, faturar-se em cima do rendimento
que o jovem artista nos dá, tirado de seu próprio
barro a moldar. Há uma troca, o diretor recebe para
atirar o dirigido à grande fogueira, que tanto pode
queimar, como iluminar. Felizmen¬te, os jovens vindos
a meu encontro não se queimaram: empu¬nharam suas
tochas, clarearam o próprio caminho. Minha ale¬gria
foi poder vê-los em sua hora de Jordão e ter
podido pas¬sar-lhes a certeza da beleza de seu destino;
minha glória, a de lhes ter levado a crença
em sua mensagem.”
Em Niterói, no final dos anos 70, Maria Jacintha lança
o ator Ricardo Sanfer. Sobre ele, ela declara numa entrevista
ao Jornal Lig de 11 de janeiro de 1987: “Se houvesse
em mim delírios messiânicos, eu diria que Ricardo
Sanfer, a quem coube o Troféu de Melhor Ator de 1986,
é meu discípulo amado, pela gratificação
que recebo dele, a cada uma de suas incursões no palco.”
» Fontes
» Periódicas:
Jornal O Fluminense, data 1988.
»
Impressas:
JACINTHA, Maria. Conflito. Porto Alegre: Tucano, 1939.
RODRIGUES, Marise. “Uma pesquisa-projeto sobre o acervo
de Maria Jacintha, escritora e teatróloga fluminense”.
In: Caderno Seminal, vol.4. Rio de Janeiro: 1997 –
pp. 83-88.