Comecei
a fazer teatro com Sergio Brito e Klaus Viana, pessoas que considero importantíssimas
para a minha atuação teatral. Trabalhei muito como atriz, mas
descobri que a minha grande paixão era a direção. Fui então
fazer escola de teatro da FEFIERJ, mas devo dizer que considero como minha base
artística a dança que eu fiz com Eunice Linton e Juliana Yanakieva.
Ao lado disso comecei a dirigir o Grupo de Teatro do Liceu, em 1970. No Liceu,
iniciei dando história moderna e contemporânea, e como avaliação
do curso, fiz um texto de colagem que ganhou o nome de “História
70”. Foi uma experiência incrível. Daí saiu o
curso, e dois anos depois, o primeiro trabalho, que era uma direção
coletiva. Primeiro, a gente só fazia teatro na escola, e depois resolvemos
sair e ganhar a
rua.
Nós fizemos “Liberdade, Liberdade”, que falava de
direitos humanos, coisa que, na época, ninguém fazia. Ficamos
três anos com esse texto e depois partimos para os clássicos, montando
“Cenas Shakesperianas” e “Aquele que Diz Sim Aquele que
Diz Não”, de Brecht. Levamos para o Festival de Petrópolis
e foi incrível: o público se engajou no espetáculo e viajou
com os atores.
Depois de montar autores conhecidos e já consagrados, resolvemos partir
para a pesquisa e montamos o espetáculo “Os Anos Loucos do
Liceu”, sob a forma de teatro de revista, que retratava os anos 1920
e 30, contando a história da própria escola e de muita gente famosa
que está hoje por aí.
Nos 90 anos de Manoel Bandeira, prestamos uma homenagem a ele e fizemos um espetáculo
de poesia. Nessa mesma época criei o Grupo Serrote, pelos idos dos anos
1980.
Eu senti necessidade de sair do Liceu na época em que mudou a direção
e cortaram a minha liberdade, porque o artista tem que ter liberdade de criar.
Nessa época eu ouvi uma frase que me impressionou muito: “Essa
peça é tão boa pra escola...!”. Eu vi a peça
e achei horrível. Tinha sido levada pra lá por uma visão
muito arcaica de que o que é ruim serve pra estudante ver. O jovem não
quer mais nada com isso: o jovem de hoje quer um teatro que corresponda aos
anseios dele, uma coisa que sacuda ele por dentro. Essa é a função
do teatro: divertir, mas também fazer pensar.
Nos anos em que eu fiquei fora da escola eu dei segmento ao Grupo Serrote, e
montamos “Na Boca do Besouro”, a história de quatro marginais.
Montamos também “Do Boi se Aproveita Tudo”, que
é um texto meu, além de “Generalzinho de Saias”, da Stella Leonardos, “Faca Sem Ponta, Galinha Sem Pé”,
de Ruth Rocha, “Antígona”, entre muitas outras.
Eu não sou Chaplin, mas sei fazer quase tudo. Escrevo, dirijo, faço
música e participo do espetáculo.
Já houve época em que eu gostaria de ter o meu próprio
espaço pra atuar nessas diversas áreas. Eu acho que o teatro não
é só final de semana, como se faz. Isso não leva a nada,
pois teatro tem que ser um trabalho contínuo, junto às escolas,
com uma política dirigida para que se possa cobrar a participação
do público, porque o objetivo é formar platéia e manter
a qualidade.
Nós temos ótimos atores. Niterói é um celeiro de
atores que estão indo embora pela falta de oportunidades. Essa gente
tem que ser aproveitada, até em teatro de rua, que eu acho ótimo:
usar todos os tipos de auditórios, descobrir novos locais, inventar lugares
para descentralizar o teatro, ir aos bairros, talvez com um caminhão
que circulasse adaptado para um palco. Paschoal Carlos Magno fez isso com um
barco no Rio São Francisco! A gente tem que tentar.
Eu tentei criar o Núcleo de Criação Teatral porque queria
fazer pesquisas e estudar. Eu começava o projeto assim: “considerando
que a arte, o teatro, é fundamentalmente o espelho da sociedade, optaremos
por dar ao núcleo a característica essencial de pesquisar, orientar
e estudar o teatro brasileiro”. Seria uma possibilidade de retomar o caminho
de uma brasilidade do espetáculo pro ator, tanto em um contexto político,
como em um social e econômico, de forma a possibilitar aos participantes
do grupo conhecer e entrar em contato com diferentes linguagens, desde a do
circo aos métodos mais atuais de um espetáculo dramático,
sem esquecer, é claro, também de temas e dramaturgos internacionais.
Não seria um curso fechado, mas um em que pudéssemos reestudar
formas abandonadas que tanto popularizaram a arte dramática, e que muito
se relacionam com a pesquisa por novos talentos e por novas formas para um processo
dramático inovador.
Se eu achasse pessoas que estivessem querendo fazer esse estudo hoje, claro
que eu faria.