O
“Prometeu Acorrentado” , em 1971, foi ainda
com o Grupo Laboratório da UFF, direção
de José Carlos Gondim. Quando Dema (Ademar Nunes) entra
como ator, definitivamente, para o Laboratório, o grupo
já era GRITE. Com esse espetáculo tivemos uma
boa crítica do jornal “A Tribuna”: “Laboratório
impressionou com Prometeu Acorrentado”. (ver imagem)
“Primeira
Epístola de Tiradentes” (1971), com direção
de Dema tinha no elenco: Ana Maria Luiza, Regina Ângela,
De Caz, Ricardo, Miguel, Mico, Ronaldo, Chico, Mauro... Os
atores eram conhecidos pelos primeiros nomes e apelidos, ninguém
ligava para sobrenomes. Não havia a idéia personalista
da interpretação. O grupo era mais importante
do que as pessoas.
Em “Elegia a 1972”, eu e o Dema fizemos
uma colagem de textos, basicamente de Drummond, para apresentar
num colégio em que dava aulas, e com os alunos como
atores. Em 1973, o GRITE monta “Achtung”,
com direção do Dema sobre rituais nazistas de
torturas e perseguições e em plena vigência
da Censura. No dia da apresentação para os censores,
o Edson Benigno, ator que começava a peça, faz
ótimo discurso em alemão. E o discurso não
tinha no texto. Aí o censor pergunta pelo texto em
alemão. O Dema explica: ”Não é
em alemão, é apenas um improviso de sons”.
O censor rebateu: “ah, então ele vai ter que
escrever o discurso, porque como não sei falar alemão,
como vou saber que não é alemão?”.
Em “Achtung”, o Dema decidiu encerrar
a peça com: “Batam palmas, chamem os bombeiros”.
Mas o grupo protestou: ”que coisa, copiar “
O Rei da Vela”. O elenco decidiu não
fazer esse final. No dia da estréia, com o DCE lotado,
quando a peça acabou, ninguém bateu palma, silêncio
absoluto, o teatro ficou mudo, parecia um velório,
foi um choque. As pessoas foram levantando sem dizer um “a”,
400 e tantas pessoas. Um momento muito difícil de repressão
da ditadura. A peça falava, exatamente, disso. Estava
nervosa, porque fazia a luz do espetáculo. Nervosa
por mim e pelo Dema. E quando atravessamos a rua em frente
do DCE, o Dema desmaiou. Foi uma estréia inesquecível.
“O
Encoberto” (1976), encenado no DCE, foi um momento
de altíssima repressão ao trabalho. Foi um espetáculo
clandestino, não participamos de nada, nem de festival.
A censura prévia cortou todo o espetáculo. Em
1976, já não prendiam, mas detonaram o espaço,
onde a gente resistia; nós, na parte de cima do DCE
e o e Amir Haddad, na parte de baixo com o Grupo A Comunidade.
E a polícia na porta. As pessoas sabiam da peça
pelo boca-a-boca. Alguém falava que ia ter alguma peça
e as pessoas iam. E mesmo com a faculdade fechada, entravam
público e atores.
Quando os atores subiam a rampa do DCE para o ensaio, um carro
da polícia estava lá, espreitando. Cada um que
subia, eles acendiam e apagavam as luzes. Às vezes,
eles também subiam. Nesse espetáculo, em determinado
momento, os atores gritavam: “socorro, socorro!”.
Num dos dias de ensaio, havia uma festa no Clube Canto do
Rio, ao lado do DCE, com enorme policiamento. E nós
gritando ‘”socorro”. De repente, entram
PMs, e nós, então disfarçamos, mudando
o texto. E começamos a falar coisas absurdas. Achamos
que tivessem invadido para nos reprimir, de alguma maneira.
Ninguém notou que era pelo pedido de “socorro”.
Um monte de PM, todo mundo paranóico. No final eles
perguntaram: ”Ah, é teatro?”.
Depoimento: Marisa Alvarenga.
|