A
história da Companhia começa lá em a
As Desgraças de uma Criança. Na época
dessa peça, quando eu saí do Rio e voltei a
morar em Niterói, fui ler sobre Martins Pena pra fazer
o autodidata, aquele que procura se informar do principio,
da pedra. Eu não vou pegar um texto do Martins Pena
sem saber quem ele é, a época em que viveu,
o que aconteceu. Tenho que entender isso pra cada personagem
que eu fizer. Eu tenho que entender que o Juiz de Paz na Roça
não é no interior de Minas Gerais, mas na Gávea,
porque a Gávea, na época, era roça. Quando
o cara fala assim: “Eu vou ao campo de Santana”,
e o outro: “Ih, só volta amanhã!”,
é porque o cara tinha que atravessar o Rio de Janeiro
até o centro. Demorava um dia. Então as pessoas
têm que entender o costume. São comédias
de costumes.
Tem uma certa bibliografia que relata que o Martins Pena nasceu
em Niterói, mas foi registrado no Rio de Janeiro. Ele
é daqui. Aí tem uma história romântica
minha de artista: Companhias de Teatro, o mambembar, o Leopoldo
Fróes, com que eu me identifico muito.
Eu fico vendo que, em 1800, os grandes teatrólogos
ficavam do lado de cá da baia. João Caetano,
por exemplo, é de Itaboraí.
O nosso Teatro Municipal é mais antigo que o do Rio,
o de Itaboraí é mais antigo que o nosso. Então
nós temos uma história cultural e Niterói
não sabe dessa história e isso me entristece.
Por isso eu acho bárbara essa idéia de lançar
esse site. Niterói não tem idéia da sua
história. João Caetano criou o teatro e as companhias
de teatro lá no século XIX. Toda cidade, no
Brasil inteiro, tem um teatro com o nome de João Caetano.
Esse cara é daqui do lado, da nossa província.
O primeiro grande ator a ir para o mundo, Leopoldo Fróes,
é um cara niteroiense que morava na Rua da Praia e
pisou por todas essas ruas aqui.
Quando eu descubro isso, eu monto essa Companhia. Um projeto
para Niterói saber da história dela. Niterói
não sabe que o primeiro espetáculo montado em
terra brasileira foi ali no Fonseca. Feito por jesuítas
na Igreja São Lourenço, ele é montado
primeiro aqui, e só depois é montado em São
Paulo. Chama-se O Auto de São Lourenço. Niterói
se chamava São Lourenço dos Índios!
Com a Cia de Repertório de Comédia Popular,
a idéia era montar as comédias de Martins Pena,
surgindo então o Festival Martins Pena, 1999. Eu fiz
esse projeto pra Niterói, mas fui recusado. Eu queria
apresentar no Teatro Municipal, porque era onde tinha as antigas
companhias. A idéia era fazer como companhias da época:
cada semana uma nova apresentação. Nos apresentamos
então na UFF e no SESI.
Cada semana era uma récita diferente. Eram oito récitas,
durante dois meses. Preços populares, 5 e 10 reais,
teatro lotado e não era por causa do preço não
era porque era uma coisa super universitária e engajada
culturalmente. Era um elenco que tinha pessoas do Rio, pessoas
de Niterói, a cada elenco ia variando. A gente dentro
do projeto, fez uma pseudo-companhia onde tinha o canastrão,
o tísico... os tipos da Companhia do Mambembe, a primeira
dama. Era meta-teatro: os atores tinham os seus personagens
da companhia, e a companhia fazia os oito espetáculos
do Martins Pena.
A gente monta essa companhia, mas andar com isso pra frente
é você administrar 20 cabeças diferentes,
porque na verdade não era uma companhia formada que
saía de um núcleo, mas sim um conjunto de pessoas
que tinha um projeto, e aí começa a complicação.
A gente ensaiava com o apoio da Faculdade Maria Teresa, nas
suas instalações. Ensaiava uma semana, na semana
seguinte já ensaiava outra coisa. Aproveitou-se e reciclou-se
tudo que eu tinha no acervo. A gente ganhou um apoio da Werner
Tecidos e o resto colocava do bolso. Esse projeto é
muito legal ainda pra ser feito, mas só se você
tiver um grupo.
A gente faz esse projeto do Martins Pena dar certo, mas ele
não tem como andar por causa da cabeça das pessoas,
e aí eu resolvo abrir uma Oficina de Teatro onde eu
pudesse tentar formar uma Companhia, e eu ia formar os atores
pra fazer com que ela finalmente decolasse.
Marcelo Caridade
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