No
final do curso no Conservatório, eu, Vitor Menezes,
Adalberto Nunes, Eliza Menezes e Gilberto Afonso resolvemos
criar o Grupo de Teatro ETC – Expansão, Teatro
e Cultura. Este grupo passou a ser um grupo oficial do IV
Centenário de Niterói por decisão de
Paschoal Carlos Magno.
Na primeira fase do Grupo fizemos várias produções,
como “Novo Otelo”, de Joaquim Manoel de Macedo,
e uma peça infantil do Adalberto: “Uma viagem
ao mundo de Itaporonga”. Viajávamos para o interior
e nos apresentávamos em escolas.
Um fato curioso aconteceu em Maricá. A convite do secretário
de turismo, faríamos “O Novo Otelo” no
dia do aniversário do município. Quando lá
chegamos, no dia da festa e em meio a várias inaugurações,
fomos recebidos como “os” artistas do Rio, nos
sendo colocado à disposição um carro
oficial e todas as mordomias. À noite, num cinema,
nos preparamos para a apresentação. No horário
previsto chegaram o secretário, depois o padre, só
que nada de público. Minutos depois, a revelação
do próprio secretário: “Gente, eu lembrei
de tudo, só esqueci do público! Nós não
divulgamos o espetáculo! Esquecemos de fazer propaganda...!”
Resultado: fizemos o espetáculo, com sete atores para
dois espectadores.
- O grupo – Segunda fase
Com
a saída de Vitor e Adalberto, eu venho para Niterói
e resolvo assumir o grupo com Ana Caldeira, minha ex-mulher,
que conheci no Curso de Teatro do SESC. Àquela altura,
já havia escrito “Brincando de Brincar”.
Com ela – professora de Literatura e também conhecedora
de textos infantis – comecei a pesquisar o universo,
o comportamento e a linguagem das crianças através
de laboratórios nas praças e, principalmente,
no Campo de São Bento. Isso porque nós queríamos
saber se o que a gente estava fazendo estava bom pro gosto
infantil. E fomos pra lá brincar com as crianças,
e entender o universo delas, e então começamos
a descobrir muitas coisas.
A criança urbana não brinca mais de peão,
não brinca com brinquedos artesanais, e esse universo
estava acabando. Nem se falava mais em cantigas de roda...
Eu sei é que, a partir daí, a gente começou
a resgatar essas brincadeiras e cantigas, e no fim as crianças,
os pais e os pedagogos para os quais íamos nos apresentando
gostavam muito. Mais tarde, “Brincando de Brincar”
passa por uma revisão e músicas de autoria da
Ana e de seu irmão, José Luis.
- O Teatro improvisado
A
gente não tinha lugar pra ensaiar e pra se apresentar.
Então eu fui à Igreja Porciúncula de
Sant’Ana e conversei com o padre, que se sensibilizou
com a nossa historia e concordou que nós improvisássemos
um teatro no salão de festas da Igreja até com
refletores e com faróis de carro, já que o pai
da Ana entendia muito de eletricidade e nós não
tínhamos dinheiro. Na verdade, não tínhamos
nada, e fizemos um cenário todo de sucata, com latas
de leite, caixas de papelão e jornais velhos.
Naquela ocasião, mesmo ainda não sendo jornalista,
fiz um texto e rodamos em mimeógrafo. Através
desse texto divulgávamos a peça e criticávamos
a falta de teatro na cidade. Comecei então a mandar
para os jornais, como O Fluminense, mas logo percebi que só
isso não ia gerar grande impacto. Assim, procurei o
poderoso Mauro Costa, Diretor de Jornalismo da TV Globo, na
própria TV, que para minha surpresa me atendeu. Recebeu
o “pobre” release e disse: “tá”.
Dias depois recebi um telefonema da TV Globo por meio do qual
nos era solicitada a data de nosso ensaio geral, pois ele
iriam filmar nossa peça. Não preciso comentar
o sucesso que foi, inclusive com uma fila quilométrica
para assistir o espetáculo. Apesar de hoje em dia você
ter vários canais de televisão, inclsuive por
assinatura, naquela época a TV Globo era a única,
e mesmo assim conseguimos que ajudasse a valorizar o nosso
trabalho, que, como eu disse, foi todo artesanal: sem produção,
sem verba , sem nada.
» Depoimento: Mario de Sousa
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