Início
Projeto
História / Memória
Quem é quem
Fórum
Links
Espetáculos
Contato
 
 

Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
:: Quem é quem » Grupos » ETC - Expansão Teatro e Cultura - 1975
« voltar
 
No final do curso no Conservatório, eu, Vitor Menezes, Adalberto Nunes, Eliza Menezes e Gilberto Afonso resolvemos criar o Grupo de Teatro ETC – Expansão, Teatro e Cultura. Este grupo passou a ser um grupo oficial do IV Centenário de Niterói por decisão de Paschoal Carlos Magno.
Na primeira fase do Grupo fizemos várias produções, como “Novo Otelo”, de Joaquim Manoel de Macedo, e uma peça infantil do Adalberto: “Uma viagem ao mundo de Itaporonga”. Viajávamos para o interior e nos apresentávamos em escolas.
Um fato curioso aconteceu em Maricá. A convite do secretário de turismo, faríamos “O Novo Otelo” no dia do aniversário do município. Quando lá chegamos, no dia da festa e em meio a várias inaugurações, fomos recebidos como “os” artistas do Rio, nos sendo colocado à disposição um carro oficial e todas as mordomias. À noite, num cinema, nos preparamos para a apresentação. No horário previsto chegaram o secretário, depois o padre, só que nada de público. Minutos depois, a revelação do próprio secretário: “Gente, eu lembrei de tudo, só esqueci do público! Nós não divulgamos o espetáculo! Esquecemos de fazer propaganda...!” Resultado: fizemos o espetáculo, com sete atores para dois espectadores.

- O grupo – Segunda fase
Com a saída de Vitor e Adalberto, eu venho para Niterói e resolvo assumir o grupo com Ana Caldeira, minha ex-mulher, que conheci no Curso de Teatro do SESC. Àquela altura, já havia escrito “Brincando de Brincar”. Com ela – professora de Literatura e também conhecedora de textos infantis – comecei a pesquisar o universo, o comportamento e a linguagem das crianças através de laboratórios nas praças e, principalmente, no Campo de São Bento. Isso porque nós queríamos saber se o que a gente estava fazendo estava bom pro gosto infantil. E fomos pra lá brincar com as crianças, e entender o universo delas, e então começamos a descobrir muitas coisas.
A criança urbana não brinca mais de peão, não brinca com brinquedos artesanais, e esse universo estava acabando. Nem se falava mais em cantigas de roda... Eu sei é que, a partir daí, a gente começou a resgatar essas brincadeiras e cantigas, e no fim as crianças, os pais e os pedagogos para os quais íamos nos apresentando gostavam muito. Mais tarde, “Brincando de Brincar” passa por uma revisão e músicas de autoria da Ana e de seu irmão, José Luis.

- O Teatro improvisado
A gente não tinha lugar pra ensaiar e pra se apresentar. Então eu fui à Igreja Porciúncula de Sant’Ana e conversei com o padre, que se sensibilizou com a nossa historia e concordou que nós improvisássemos um teatro no salão de festas da Igreja até com refletores e com faróis de carro, já que o pai da Ana entendia muito de eletricidade e nós não tínhamos dinheiro. Na verdade, não tínhamos nada, e fizemos um cenário todo de sucata, com latas de leite, caixas de papelão e jornais velhos.
Naquela ocasião, mesmo ainda não sendo jornalista, fiz um texto e rodamos em mimeógrafo. Através desse texto divulgávamos a peça e criticávamos a falta de teatro na cidade. Comecei então a mandar para os jornais, como O Fluminense, mas logo percebi que só isso não ia gerar grande impacto. Assim, procurei o poderoso Mauro Costa, Diretor de Jornalismo da TV Globo, na própria TV, que para minha surpresa me atendeu. Recebeu o “pobre” release e disse: “tá”. Dias depois recebi um telefonema da TV Globo por meio do qual nos era solicitada a data de nosso ensaio geral, pois ele iriam filmar nossa peça. Não preciso comentar o sucesso que foi, inclusive com uma fila quilométrica para assistir o espetáculo. Apesar de hoje em dia você ter vários canais de televisão, inclsuive por assinatura, naquela época a TV Globo era a única, e mesmo assim conseguimos que ajudasse a valorizar o nosso trabalho, que, como eu disse, foi todo artesanal: sem produção, sem verba , sem nada.

» Depoimento: Mario de Sousa