Assim
que me formei na CAL, formei um grupo (Grupo do Beco) com o
pessoal que estudou comigo lá. O nome foi uma homenagem
à Barbara Heliodora, que mora no Beco do Largo do Boticário
no Rio e que nos deu a maior força. Começamos
montando Shakespeare, que é minha paixão. A gente
fazia muito projeto-escola. Cada participante tinha uma função:
um dava aula, outro atuava na peça em cartaz, outro fazia
televisão.
Hoje, sou mais professora, apaixonada pelo trabalho de construção
do ator. Acabo de me formar em Psicologia e minha monografia
é sobre isso. No mestrado, quero fazer algo relacionado
à função da psicanálise no teatro,
estudar a transformação do sujeito através
da arte, do teatro. Gosto de ver meus alunos criarem e acredito
na direção que vai dando suporte para a atuação,
e não aquela que diz exatamente o que deve ser feito.
Discutimos muito isso aqui, e isso vem muito do que aprendi
na CAL e com as minhas outras experiências. Estou percebendo
que me tornei diretora porque acho o trabalho de ator um tesão.
O meu primeiro público foram meus alunos do Colégio
Assunção. Foram oito anos trabalhando lá.
No entanto, essa minha turma de hoje teve um funcionamento diferente,
porque está junta há quase quatro anos, e aos
poucos começou a ser uma coisa de grupo: de discutir
e estudar muito. Acredito em teatro de grupo. A gente discute
textos e lê muito para decidir o que vai montar.
Em Niterói, vejo as pessoas fazendo apenas teatro infantil.
Nós queremos fazer diferente. Estudamos Nelson Rodrigues
no ano passado, estudamos Shakespeare para montar “Um
Homem Chamado Shakespeare”, que foi um passeio pela
sua obra... A preocupação é apresentar
um teatro de qualidade, com trabalho de pesquisa, de estudo
da história do teatro, passando por nomes importantes
como Stanislavski, Brecht...
Esse teatro de grupo é gostoso por isso: não é
só ensaiar e fazer. Trabalhamos meses e meses, com calma.
Além disso, a gente pode também entrar em contato
com o trabalho de outros grupos. Por exemplo: o Grupo Armazém
fez agora 20 anos. E é um grupo mesmo, onde todo mundo
se mantém fazendo teatro: eles vivem de teatro, têm
um espaço na Fundição Progresso, e a maioria
das peças é escrita pelo diretor Paulo Moraes.
Fiz questão de levar o grupo para conhecer o Armazém!
Acho que isso também nos ajuda a nos vermos como um grupo,
que se exercita e se diverte, estudando juntos, aprendendo juntos,
e não só montando peça o tempo todo.
Depois que a gente ensaia, que a gente sobe e a peça
passa, aquele frio na barriga é uma sensação
muito boa no peito. É muito bom a gente ficar lembrando
dos ensaios, do processo... A gente sempre sente saudade.
Eu acho que hoje dá pra sobreviver de teatro sim. Como
qualquer profissão, você tem que arregaçar
as mangas e começar a fazer. Eu, por exemplo, comecei
a dar aulas por esta razão, e por mais que há
anos eu não suba no palco como atriz, descobri o prazer
de dar aula e de ser diretora, que é fantástico
também.
A oficina do grupo começou em setembro de 2007. Em 2009,
montamos “A Maldição do Vale Negro”
e nos apresentamos no Café Teatro Papel Crepom. Em 2010,
montamos “Um Homem Chamado Sheakespeare”,
e começamos a ganhar espaço. Esse ano (2011),
a gente vai para o SESC de novo.
Em 2010, recebemos um “não” do Teatro Municipal,
mesmo com aval da Bárbara Heliodora. É por isso
que sinto falta do Teatro Popular. Se o Municipal só
quer grandes montagens, tem que ter um outro teatro público.
O Teatro da UFF está em obras, o Teatro Popular fechado,
na AMF e no Abel não conseguimos pauta porque não
temos grandes patrocinadores... Foi então que tentamos
o SESC e lá fomos super bem recebidos. Até já
conseguimos esse ano de novo... Vamos ganhando espaço,
devagarzinho, assumindo que só temos quatro anos. E a
gente vai crescer... Na verdade, a gente está crescendo,
e cada vez mais mostrando o nosso trabalho.
O Teatro pelos Singulares
Teatro
é aprendizagem, é ter a oportunidade de se conhecer,
não tendo medo dessa descoberta. O Teatro nos põe
em contato com nosso eu mais profundo, levando-nos a explorar
certas personalidades que existem em nós, abrindo a
possibilidade de conhecer outras histórias, outros
destinos. O Teatro traz mudanças para a vida de quem
atua: Na vida é ser ou não ser, no teatro é
ser e não ser. Fazer Teatro é ter a chance de
ser quem você não é no dia-a-dia. TEATRO
É PODER SER!”
(Ana Gravina, Júlia Mattos, Luiza Vinhosa, Bruna Gontijo,
Maurício Nascimento, Ana Luiza Souza, Giulia Latgé
e Pedro Azevedo: Grupo Singulares de Teatro).