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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
:: Quem é quem » Atores» Antonio Carlos De Caz
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Comecei a fazer teatro no Colégio Plínio Leite, nos anos 1960, sem saber se levava jeito. Minha primeira peça foi "O Pivete", direção de Sohail Saud. Fazia essa peça todo ano. Depois, fiz um curso de teatro com Odir Vernon, no Teatro Leopoldo Fróes, na época do INDC (Instituto Niteroiense de Difusão Cultural). Na apresentação final, declamei um poema de Paul Verlaine e uma cena de Danton. Apareceu, então, Silva Ferreira, que passou a ser o nosso diretor. A primeira peça que ele dirigiu foi "Nossa Cidade". Com esse espetáculo pelo INDC, formamos um grupo chamado Os Provincianos.

Com Os Provincianos fizemos Dois Perdidos numa Noite Suja, O Pagador de Promessas e A Via Sacra em algumas igrejas de Niterói. Ainda com “Os

Provincianos”, no começo dos anos ’70, montamos "Entre 4 Paredes", com direção de Silva Ferreira. No elenco: Antonio Carlos De Caz, Maria Margarida, Maria das Graças Arruda e Sérgio Solano no papel do Camareiro. Essa peça participou do Festival de Arcozelo.

O pessoal do Grupo Laboratório da UFF levou ao Festival "Prometeu Acorrentado". Já conhecia o pessoal do Laboratório, e estava até para entrar na peça, mas como o Sérgio Solano não pôde ir a Arcozaelo, quem fez o camareiro foi Dema (Ademar Nunes). Ele era ator de Prometeu Acorrentado, dirigido por José Carlos Gondim. Foi um improviso maravilhoso. Marisa Alvarenga ficou servindo de ponto para o Dema. Depois do Festival eu entrei para o elenco do Prometeu, no coro.

O Dema dirigiu a primeira peça dele no Laboratório que foi "A Primeira Epístola de Tiradentes" (1971). Trabalhei com ele o tempo inteiro no GRITE (Grupo Independente de Teatro) e no Corpo Vivo. A única peça que não pude fazer foi "Dama de Copas e o Rei de Cubas" (1981), na Livraria Pasárgada. Quem fez foi Evans Brito, mas as outras, fiz todas: "O Encoberto" (1976) e "A Peste" (1974).

Não me lembro de ter sido dirigido, como ator, por ninguém. Quando fazia os meus personagens, convivia muito com eles, saíam da minha cabeça. Certa vez, andando pela rua Barão do Amazonas, indo para casa de Themilto Tavares, que morava na Coronel Gomes Machado, comecei a falar em voz alta o texto de "Dois Perdidos Numa Noite Suja" – fazia o Paco. Querendo ou não, você fica com o texto na cabeça, e, provavelmente, em algum momento, falei um palavrão. Duas senhoras que passavam por mim, disseram: “Além de maluco é desbocado”. Você se perde, vai criando o personagem. Sempre gostei, e ainda gosto, de compor o personagem. Não gosto de ser eu mesmo em cena.
Por exemplo, em Dois Perdidos, a minha mãe me achou nojento, porque botei uma toquinha de plástico vazada de limão na cabeça, deixei a barba crescer. Estava um nojo, realmente. É o que chamam de ator de composição, compunha os meus personagens. Em "A Peste", deixei a barba crescer. Tive um ganho pessoal e humano muito grande com teatro, que aliado à filosofia, me abriu os olhos para a percepção de uma série de coisas, que hoje não têm a profundidade de buscar como fazer, de ler, simplesmente isso. "Prometeu Acorrentado" levou nove meses para ser criado. Estudávamos, tínhamos laboratório, fazíamos expressão corporal, tudo.

OS ANOS 70

Nos anos ’70 existiu um movimento muito rico no teatro, muito importante, principalmente em Niterói. Saíamos daqui para fazer o curso do Paschoal Carlos Magno em Arcozelo. Tínhamos aula o dia inteiro. À tarde era sobre o Teatro Grego com o professor Hausseman. Acabava o almoço, e a gente saía direto para essa aula. O professor mandava fechar os olhos e começava a falar, dava uma lombeira, mas foi importantíssimo. Era estudante e podia fazer isso, hoje as pessoas não têm essa disponibilidade. Falta ao pessoal de hoje, com exceções, cultura teatral e leitura. Você não pode deixar de ler Shakespeare. Não pode deixar de ler Hamlet. As pessoas que fazem teatro hoje pegam o papel e decoram.
No Festival de Arcozelo ficamos 15 dias. Tinha peça em todo lugar, até na cozinha. Vi "O Assalto" em cima das mesas da cozinha. Fizemos "Entre 4 Paredes" no teatro, mas "Prometeu Acorrentado" foi ao ar livre. Lembro que fiquei trepado na árvore, fazendo iluminação.
Na "Marginália", de Niels Petersen e Mauro Dias, não havia um espetáculo que eu fizesse igual ao outro. Era sempre diferente, mas, evidentemente, sem jogar o outro ator no fogo. “Dessa vez vou fazer isso!”, já avisava. O improviso, aquilo que saía na hora, foi muito rico, muito importante. Atualmente, acho tudo muito confuso, há muita vaidade, ficar discutindo quem é melhor, quem é pior, festival... Chega! Não estou mais nessa.

Diretor | Grupo Os Provincianos