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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
:: Quem é quem » Atores» Leonardo Simões
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Começo a fazer teatro com meu pai, Luiz Simões, em 1979/80, quando ele se aposentou do Banco do Brasil, e começa a arquitetar a idéia de criar um grupo. Na época, eu e minha irmã, Luciene, estávamos começando a nos envolver com teatro por caminhos diferentes. Luciene trabalhava com Luis Zaga, que era diretor em Niterói, fazendo "O Dragão da Bondade". Eu, no Colégio Salesianos, no grupo do professor Julio Diniz. Com isso, papai se animou com os dois filhos mais novos fazendo teatro, e resolveu fundar o Grupo Dois Pontos.

Ele pegou o trabalho que eu já estava fazendo no Salesianos, com um grupo que se desfez, O Tatibitati.

"A Princesinha Dengosa", de Lúcia Benedetti, foi o meu primeiro trabalho como diretor e o primeiro trabalho do grupo Dois Pontos. Papai, com a experiência de advogado e de administrador, criou um estatuto e abriu uma empresa tinha CNPJ - uma sociedade civil sem fins lucrativos. Isso em 1981. A fundação oficial foi em 1982, mas o início foi em março de ’81, quando "A Princesa Dengosa" se apresentou no teatro, no auditório do clube AABB, em São Francisco.

Em 1982, estreou "Acalanto", meu primeiro texto para o teatro infantil no Grupo Dois Pontos. Também em ’82 o grupo monta Lobo Mau Cara de Pau. Texto de meu pai, Luiz Simões, com minha mãe, Adaltiva Amarantes, de avó, Carla Bessa, de Chapeuzinho Vermelho, e Roberto Muniz, meu colega do Salesianos, de Rádio.
"Lobo Mau Cara de Pau" era uma versão atenuada do Lobo Mau: o Lobo era vegetariano, queria os docinhos da vovó, os caçadores eram judocas. Papai fazia os adereços de caracterização: aquelas coisas de isopor, verdadeiras esculturas que mamãe forrava de astracan. No ano seguinte (1983), o grupo fez "Pluft, o Fantasminha".

Nesse meio tempo, estava também trabalhando com o Claudio Handrey no grupo dele, que era o Vitrais. Estávamos ensaiando "Entredentes", com texto e direção do Claudio. Em paralelo, estávamos também com um adulto que papai tinha escrito: "Zingfrix – Deus ou Astronauta". Papai era fascinado por essas coisas, devorava todos os livros do Erick Von Daniken, e assim ele escreveu uma peça que tinha trechos de citação do Daniken gravada. O narrador era o Luis Zaga. A voz do Zaga era forte, e então papai o chamou. Eu fazia, mais uma vez, um cara muito mais velho. Tinha 18 anos, papai era meu tio, minha tia, Luciene Simões, era minha mãe, e minha irmã era a empregada.

O meu personagem, o professor, era obcecado pelo Daniken e ele recebe a visita de um E.T. que só ele via. O E.T era meu irmão, Lincoln Simões. A família estava toda em cena. Eu, papai, mamãe, Luciene, minha cunhada Rita de Cássia Andrade Simões, que fazia uma secretária apaixonada por mim, que era casado com a Sonia Bessa. Tinha também Jaqueline Vermont e meu irmão vestido com um macacão verde com aquelas coisas que papai fazia de capacete prateado, com uma “luzinha” que piscava. Hoje, a gente tem acesso a todo tipo de material, mas naquela época, além da precariedade, tudo era muito caro. O curioso é que só meu personagem via o E.T., e no final ele engravidava todas as mulheres da casa com telepatia. A cena final eram as mulheres todas grávidas, inclusive mamãe, sexagenária grávida, e aparecia meu irmão lá no fundo. Zingfrix foi a única experiência do Dois Pontos no teatro adulto.

Nesse meio tempo, em 1984/85, eu e Luciene entramos na UNIRIO, e começamos a migrar para o grupo da universidade. O grupo, nessa época, tinha dois elencos que trabalhavam nas peças "Seu Sol, Dona Lua" e "A Bruxa da Montanha Azul".
A fase familiar do Dois Pontos vai até 1986/87. Em ’87, eu e Luciene ficamos muito dedicados à UNIRIO, e montamos com a Claudia Valli "Dez anos sem Chaplin - Uma Forma de Emoção", que era uma peça com uma hora e meia só de pantomimas. Um trabalho belíssimo! Por esta razão, eu e Luciene abandonamos um pouco o Dois Pontos, e meu pai também não continuou. Ele já começava a apresentar problemas de saúde.

GRUPO DOIS PONTOS – PROJETO LIVRO EM CENA

No final de 1987, resolvo retomar o Dois Pontos, e vi que aquele núcleo que existia não tinha mais sentido. Criei, então, um rótulo: Grupo Dois Pontos – Projeto Livro em Cena para trabalhar a literatura infanto-juvenil. O primeiro livro que a gente usou foi O mistério de Feiurinha, de Pedro Bandeira. Nessa época eu estava fazendo algumas oficinas no Grafite, e aí surgiu uma safra nova de atores: Marcos Acher, Carmem Frenzel, Guilherme Guaral e Eleusa Mancini. Vieram fazer oficinas comigo, porque tinham visto uma montagem minha que não era do Dois Pontos: era o Flicts, do Ziraldo, que montei a convite do Marco Pólo. Nesse meio tempo, estava fazendo "Os Saltimbancos", com Roberto Muniz. Ele já tinha fundado o grupo dele, o De La Mancha. Ele fez Dom Quixote, e estreamos no Teatro Municipal de Niterói.

Em 1988, existia uma discussão na ATACEN (Associação dos Trabalhadores em Artes Cênicas de Niterói). Anamaria Nunes arregimentou atores pra fazer um movimento teatral na cidade. O Casarão de Charitas, em 1988, se tornou por um breve período o Casarão das Artes. A peça infantil que estreou lá foi "O mistério de Feiurinha". Fomos para o Teatro Municipal de Niterói, em agosto de 1988, e aí começa nova fase do projeto Livro em Cena, que emendou "O mistério de Feiurinha" com "Ou Isto ou Aquilo", de Cecília Meireles.

Em 1989, eu e Roberto Muniz propomos a ocupação do Museu do Ingá como um espaço para ensaiar, dar aulas e para apresentações. "Ou Isto ou Aquilo" foi a nossa estréia nessa ocupação, um trabalho do Dois Pontos, com direção do Guilherme Guaral e eu na supervisão. Em 1990, fizemos temporada da "Feiurinha..." no Teatro da Cidade, no Rio, Lagoa, que é indicado ao prêmio Coca-Cola como melhor texto. O terceiro espetáculo do projeto Livro em Cena era "O Bicho de Sete Cabeças", do Pedro Bandeira, mais infanto-juvenil.

Em ’90, estávamos, ao mesmo tempo, em cartaz com "Feiurinha...", "Ou Isto ou Aquilo" e "Bicho de Sete Cabeças". Era um elenco de 30 e poucas pessoas se revezando. Eu fazia como ator "Uma Aventura Carioca" do Caio de Andrade. Foi o estrangulamento do grupo nesse período.

GRUPO DOIS PONTOS – PROJETO PRETO E BRANCO

Em 1991, começa o Projeto em Preto e Branco, que é a terceira fase do grupo. Continua Dois Pontos, mas perde a identidade familiar. Há uma renovação de elenco e a gente faz "O Encontro de Machado de Assis e Arthur Azevedo", sendo a primeira montagem em 1992, no Museu do Ingá. Ficamos por lá por dois anos.
O segundo trabalho desse projeto foi o "Várias Histórias", que reunia três contos do Machado e foi feito no Museu Antonio Parreiras.

No ano de 1994, eu já estava dando aula no Colégio Itapuca, tinha terminado a faculdade e passado no concurso para a UFF (Universidade Federal Fluminense). Parei com o grupo, por questões pessoais: acidente do meu filho, da minha esposa, e também porque percebi que não tinha mais sentido aquela idéia inicial. O Dois Pontos já tinha acabado. Chega uma hora que o grupo acaba, e você mantém a marca; mas a essência são as pessoas.

De 1994 a 2006, fiquei muito ligado ao teatro no Colégio Itapuca. Criamos um teatrinho de cem lugares que existe até hoje. Lá, fiz muitas peças voltadas para o colégio. De professor, passei a coordenador cultural, criando um clube de cultura.
Em 2004, colocamos um projeto na Secretaria de Estado de Cultura e ganhamos uma verba do Pró-Cena. "O Encontro de Machado de Assis e Arthur Azevedo", já no Solar do Jambeiro, teve uma repercussão muito boa. Esse trabalho é o mesmo material do Machado de Assis com alguns contos novos, e, para mim, é o fechamento dessa pesquisa.

NEPAC

Em 2007, crio o NEPAC (Núcleo de Ensino e Pesquisa em Artes Cênicas), porque percebi que é muito difícil, hoje em dia, manter um grupo estável, que é o sonho de todo diretor. Mas tem alguns atores com quem trabalho sempre e me dei conta que ficam orbitando em torno. De vez em quando, posso contar com eles e os chamo, mesmo sem ter nada fixo.

A idéia do Núcleo é essa: um núcleo de atividades e um de propostas. Em 2011, estamos com o "Te Conto em Cena", no Castelinho do Flamengo. No ano passado, resolvi inverter um pouco o que sempre fiz. Moro em Niterói, mas não estréio mais aqui. Todo trabalho eu vinculava à Niterói, mas percebi que estava muito fechado. De 2010 em diante, resolvi inverter. Quero estrear no Rio e depois trazer para Niterói, mesmo que a base de trabalho continue aqui. Um foco que tenho bastante claro é batalhar por uma sede. Não é nem palco, mas uma sala para cursos e oficinas, que possa gerar renda para manter o próprio espaço.

GRUPO DOIS PONTOS - NEPAC (Núcleo de Ensino e Pesquisa em Artes Cênicas)