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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
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Começo a fazer teatro em 1967 com o grupo Laboratório de Teatro Universitário (LATU da UFF). A peça era “De Mãos Dadas”, textos de Carlos Drummond de Andrade selecionados pela professora Diva Rocha, com direção de Haroldo Azevedo.
O segundo espetáculo foi em 1970, já com o Grupo Laboratório. Encenamos “O Futuro está nos Ovos”, com direção de Jose Carlos Gondim. No programa do espetáculo (ver imagem) é possível perceber como o grupo funcionava, com a falta de recursos e grande criatividade. O programa de “O Futuro está nos Ovos” é mimeografado, escrito à mão, e registre-se a inventividade do seu desenho: tinha um furo no alto para, quem quisesse, o pendurasse. A montagem foi apresentada no Teatro

Nacional de Comédia, no Rio. Teatro Municipal de Niterói e no Teatro Leopoldo Fróes.

GRITE - GRUPO INDEPENDENTE DE TEATRO

O “Prometeu Acorrentado” , em 1971, foi ainda com o Grupo Laboratório da UFF, direção de José Carlos Gondim. Quando Dema (Ademar Nunes) entra como ator, definitivamente, para o Laboratório, o grupo já era GRITE. Com esse espetáculo tivemos uma boa crítica do jornal “A Tribuna”: “Laboratório impressionou com Prometeu Acorrentado”. (ver imagem)

“Primeira Epístola de Tiradentes” (1971), com direção de Dema tinha no elenco: Ana Maria Luiza, Regina Ângela, De Caz, Ricardo, Miguel, Mico, Ronaldo, Chico, Mauro... Os atores eram conhecidos pelos primeiros nomes e apelidos, ninguém ligava para sobrenomes. Não havia a idéia personalista da interpretação. O grupo era mais importante do que as pessoas.
Em “Elegia a 1972”, eu e o Dema fizemos uma colagem de textos, basicamente de Drummond, para apresentar num colégio em que dava aulas, e com os alunos como atores. Em 1973, o GRITE monta “Achtung”, com direção do Dema sobre rituais nazistas de torturas e perseguições e em plena vigência da Censura. No dia da apresentação para os censores, o Edson Benigno, ator que começava a peça, faz ótimo discurso em alemão. E o discurso não tinha no texto. Aí o censor pergunta pelo texto em alemão. O Dema explica: ”Não é em alemão, é apenas um improviso de sons”. O censor rebateu: “ah, então ele vai ter que escrever o discurso, porque como não sei falar alemão, como vou saber que não é alemão?”.
Em “Achtung”, o Dema decidiu encerrar a peça com: “Batam palmas, chamem os bombeiros”. Mas o grupo protestou: ”que coisa, copiar “ O Rei da Vela”. O elenco decidiu não fazer esse final. No dia da estréia, com o DCE lotado, quando a peça acabou, ninguém bateu palma, silêncio absoluto, o teatro ficou mudo, parecia um velório, foi um choque. As pessoas foram levantando sem dizer um “a”, 400 e tantas pessoas. Um momento muito difícil de repressão da ditadura. A peça falava, exatamente, disso. Estava nervosa, porque fazia a luz do espetáculo. Nervosa por mim e pelo Dema. E quando atravessamos a rua em frente do DCE, o Dema desmaiou. Foi uma estréia inesquecível.

“O Encoberto” (1976), encenado no DCE, foi um momento de altíssima repressão ao trabalho. Foi um espetáculo clandestino, não participamos de nada, nem de festival. A censura prévia cortou todo o espetáculo. Em 1976, já não prendiam, mas detonaram o espaço, onde a gente resistia; nós, na parte de cima do DCE e o e Amir Haddad, na parte de baixo com o Grupo A Comunidade . E a polícia na porta. As pessoas sabiam da peça pelo boca-a-boca. Alguém falava que ia ter alguma peça e as pessoas iam. E mesmo com a faculdade fechada, entravam público e atores.
Quando os atores subiam a rampa do DCE para o ensaio, um carro da polícia estava lá, espreitando. Cada um que subia, eles acendiam e apagavam as luzes. Às vezes, eles também subiam. Nesse espetáculo, em determinado momento, os atores gritavam: “socorro, socorro!”. Num dos dias de ensaio, havia uma festa no Clube Canto do Rio, ao lado do DCE, com enorme policiamento. E nós gritando ‘”socorro”. De repente, entram PMs, e nós, então disfarçamos, mudando o texto. E começamos a falar coisas absurdas. Achamos que tivessem invadido para nos reprimir, de alguma maneira. Ninguém notou que era pelo pedido de “socorro”. Um monte de PM, todo mundo paranóico. No final eles perguntaram: ” Ah, é teatro?”

ADEMAR NUNES

Em “Bye Bye Pororoca” (1981), o Dema, que sempre trabalhava com o GRITE, se defronta com o processo de direção coletiva, uma discussão antiga do grupo, desde aquele racha inicial do Corpo Vivo- Marilene Calheiros, Minoru Noyama, Lilza Soares e José Fernando Figueiredo - com o GRITE. Dema achava que a direção tinha um papel um pouco diferente. Queria ter uma experiência em que pudesse ser mais autoral, mas naquela época a ditadura do grupo era grande. O que é uma bobagem, já que mesmo um diretor autoral compõe totalmente com o grupo. Ele queria tentar com o nosso grupo, mas não conseguiu, e então chamou outras pessoas. Achava que só se tivesse um elenco que não fosse integrante de um grupo é que poderia se exercitar como diretor, porque queria se certificar se era mesmo capaz de realizar suas idéias. E era difícil executar essas idéias no nosso grupo, sem muita interferência. O espetáculo ficou lindo. Era um teatro de entretenimento, com cunho social. Dema era engajado, não alienado. Mas o espetáculo era mais uma revista. Dema era um diretor do espetáculo, não gostava de dirigir o ator. Ele não saiu do grupo, foi um trabalho que ele fez fora, que sentiu vontade de fazer.
“A Dama de Copas e o Rei de Cubas” (1981), com direção de Dema, inaugurou o teatro da Livraria Pasárgada. O Thimochenco Wehbi, autor do texto, pensava a peça como uma comédia, mas quando lemos, optamos pelo tom de drama. Thimochenco ficou surpreso, porque não conseguia fazer a mesma leitura, mas adorou. Veio duas vezes de São Paulo. Queria fazer umas mudanças, e então me ligava e dizia: “anota, ali naquela página põe isso”, e eu pensava: ”mas vai ficar horrível!”. O que ele queria era dar uma graça ao espetáculo.

TEATRO INFANTIL

A transição do teatro militante do GRITE para o teatro infantil não foi arbitrária. Nossa militância se dirigia, em parte, para a educação, tanto que em “O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma” (1981 do GRITE/Corpo Vivo) critica-se os métodos da escola. Continuamos na nossa linha de denúncia, de questionamento, só que para crianças. O teatro político continuava, em paralelo.
Nosso começo foi na Escola Raul Fernandes, chamando as crianças para participar de “Em Busca do Tesouro” (1982). Nessa época só existiam dois partidos políticos: MDB e Arena. Era o momento de mostrar nosso apoio à oposição. Algumas prefeituras estavam conseguindo eleger candidatos de esquerda, como em Campinas, Londrina e Niterói. Conheço, então, o Otto Faber e ele me propõe um trabalho de educação e saúde integrado. Joaquim Cardoso era diretor do Instituto Oswaldo Cruz e formulou uma política de educação maravilhosa. Era a militância entrando na saúde e na educação, e o início da distensão da ditadura, enfim, professores e médicos das secretarias de Educação e de Saúde convocados a formular programas para Niterói.
A Fundação de Atividades Culturais (FAC) assume o programa criando atividades comunitárias de teatro nas escolas. “Em Busca do Tesouro” apresentamos no primeiro dia de trabalho com a comunidade. Éramos um grupo de palhaços, em que tudo era brincadeira. Imaginação pura, mas o tesouro não. A gente realmente escondia o tesouro, que era uma caixa enorme com todos os adereços do teatro. Não sobrou nada. As crianças aceitaram o convite para brincar de teatro. A apresentação inicial ficou tão legal, tão bonita, que resolvemos fazer um texto fechado, mudando a narrativa, que tinha começo, meio e fim. Fomos até indicados para o “Prêmio Mambembe” de melhor autor nacional.

ATUALIDADE
Há 10 anos faço trabalho voluntário na “Casa do Homem de Amanhã”, encenando vários espetáculos. Encerramos com “Em Busca do Tesouro Perdido”, com meninos da comunidade e também com filhos das pessoas que trabalham na Casa.
Nesse espaço começamos a trabalhar com contos e cirandas, para ampliar a noção de teatro. Quando cheguei lá, os garotos faziam imitação de novela, como se o teatro fosse aquilo. Eram pai e mãe brigando com os meninos por causa de escola. Gente se matando. Um dia, gravaram o que faziam, e acharam horrível. Queriam alguém pra ajudar, pra melhorar. Levei muitos livros, fotos, levei ao teatro, e vi que eles tinham domínio de palco. Eu não acreditava no que estava vendo. Para mim foi muito rico.

ATRIZ
"Mãos Dadas" adaptação para teatro de poemas de Carlos Drummond de Andrade, realização do LATU (Laboratório de Teatro Universitário) UFF - 1967

"O Futuro esta nos Ovos" de Ionesco, realização do Grupo Laboratório Centro de Estudos de Arte Dramática - UFF - 1970

"Prometeu Acorrentado" de Ésquilo, realização do Grupo Laboratório - Centro de Estudos de Arte Dramática - UFF -1971

"A Peste" de Renzo Casali (tradução e adaptação de Ademar Nunes) realização do GRITE - Grupo Independente de Teatro - 1974

"O Encoberto" de Natália Correa, realização do GRITE (Grupo Inde¬pendente de Teatro) - 1976

"Medidas Desiguais” criação coletiva do Grupo Corpo Vivo - 1978

"O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma" (infantil) adaptação do livro "Rente que nem pão Quente" de Maria Mazzetti pelo GRITE Grupo Independente de Teatro - 1981

"A Dama de Copas e o Rei de Cuba" de Timochenco Wehb realização do GRITE/CORPO VIVO -1981

"Em Busca do Tesouro" criação coletiva do GRITE/CORPO VIVO -1982

"Da Lapinha ao Pastoril" de Luís Mendonça realização da FUNIARTE- Fundação de Artes de Niterói - 1987

"A Viagem de um Barquinho" de Sylvia Orthof, realização do GRITE/ CORPO VIVO - 1991

"Zagorá - Ode ao Desciúme" de Carlos K. Couto - 1991


DIREÇÃO

“Elegia a 1972" de Ademar Nunes e Marisa Calheiros Alvarenga,rea¬lização do Grupo de teatro do colégio Brasil - Niterói - 1972

"Achtung" de Ademar Nunes (assistência de direção) - 1973

“O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma" do GRITE/CORPO VIVO participação na direção coletiva -1981

“Em Busca do Tesouro” – do GRITE/CORPO VIVO, participação na direção coletiva
1982

“A Viagem de um Barquinho” de Sylvia Orthof, realização da Oficina de Teatro do
Centro de Estudos Supletivos II – Niterói – 1982.

AUTOR

“Elegia a 1972” de Ademar Nunes e Marisa Alvarenga – 1972

“O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma” criação coletiva do GRITE/CORPO VIVO – 1981

“Em Busca do Tesouro” criação coletiva do GRITE/CORPO VIVO indicado para o prêmio MAMBEMBINHO na categoria de AUTOR NACIONAL – 1982.

 
 

Grupo Grite