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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet
 
 
 
 

 

 
:: Quem é quem » Diretores» Elysio Falcato
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Em 1974, eu não tinha a menor afinidade com teatro. No segundo grau, fazia curso técnico em eletrônica e um dos professores convidou nossa turma a fazer uma visita à Rede Globo de Televisão. Lá, encontramos um vizinho nosso que era produtor da novela “Super Manuela”, com a Marília Pêra, e que já estava nos últimos capítulos. A próxima novela era “Carinhoso”, e ele me convidou para fazer figuração. Comecei a gostar daquilo, e por indicação de um outro amigo, fiquei sabendo de um curso de teatro no Tijuca Country Clube, onde conheci o professor Sidney Becker. Não sabia nada do teatro. Ele me ensinou tudo: o que se devia e o que não se devia fazer em cena.

O Sidney foi muito importante para o teatro em Niterói. Você podia até dizer que não era um teatro de grande qualidade, mas ele teve o mérito de colocar esse teatro na rua. Gastava o dinheiro dele, fazia coisas atropeladas, mas o teatro saía, e as pessoas criavam gosto.

Quando me mudei da Tijuca para Niterói, descobri que o Sidney também tinha se mudado para cá. Quando a gente se reencontrou, ele dirigia “Babi”. Nessa peça, conheci Dudu (Eduard Roessler), Thiago Monteiro, Cristina Fracho. Acho que daquele grupo saíram oitenta por cento das pessoas que fazem teatro em Niterói hoje.

Com o Sidney Becker eu fiz “Huguinho vai a Hollywood”, “Festival da Canção na Floresta”, entre outras. Ele ia escrevendo e eu ia fazendo, ora na produção, ora como ator. O nome do grupo era Renascimento.

Em 1978, meu amigo e ator Fábio Klein me chamou para fazer uma peça que ensaiava em Niterói. Nos ensaios, me apresentaram ao diretor Francisco Falcão, que estava montando o “Auto da Compadecida”. Rapidamente eu me engajei na produção e estreamos no Teatro Municipal da cidade. Como toda peça em Niterói naquela época, depois da temporada, tudo se desfazia. Você fazia duas semanas e partia para outra. Hoje, como não tem dinheiro, fica-se com a mesma peça por um ano ou dois.
Ainda em ’78, eu e Fábio resolvemos montar um grupo de teatro: Grupo Arteiros. Não tínhamos dinheiro, então nós fizemos 100 cartões e fomos para porta do cinema Icaraí pedir um real de cada um pelo cartão e conseguimos vender todos os cartões, e com aquele dinheiro produzimos a nossa primeira peça que foi “Festival da Canção na Floresta”. Estreamos no dia 28 de outubro de 1978 na Mostra de Teatro Infantil, patrocinada pelo jornal Fluminense, organizada pelo Mário de Souza, coordenador de Atividades Culturais da FAC na época, hoje FAN (Fundação de Arte de Niterói). Fizemos essa peça no Teatro da Flor, que era da atriz Flor de Maria. A mãe dela era dona do Colégio Santa Bernadete e criou um teatro para ela, com platéia de cem lugares. Fizemos temporada, sábados e domingos, o que para gente era uma novidade, porque nessa época ninguém fazia temporada de um mês. Com o “Festival da Canção na Floresta” ficamos dois anos em cartaz.

No início dos anos ’80, Dudu cria o Grupo Papel Crepom. Trabalho com ele na produção dos espetáculos: “Cinderela”, “Tem Xaveco no Tablado”, “Sururu no Galinheiro” e “Araribroadway”.
Inspirado no trabalho do Dudu, eu e Fabio Klein resolvemos montar uma companhia estável, e daí que surge a Cia Teatral FALK. FAL de Falcato, que é meu sobrenome, e K de Klein, que é do Fábio. Nossa primeira peça é “Aprendiz de Feiticeiro”, da Maria Clara Machado, no Teatro Leopoldo Fróes, em julho de 1984.

Em 1986, o Ronaldo Mendonça me chamou para fazer “O Auto da Compadecida” na UFF, com 16 atores de vários grupos, criando a Cia Experimental de Teatro Estável da Universidade Federal Fluminense. Foi uma experiência extremamente saudável para todos, e com ela as pessoas começaram a sair do amadorismo.

Depois da Compadecida, resolvi produzir minha própria peça e chamei Cristina Fracho e Aníbal Erthal para produzir comigo. Produzimos “Três Peraltas na Praça”, do José Valuzi, ainda em ’86. No elenco: Ricardo Sanfer, Cristina Fracho, Marco Hazek. Também nessa época Fernando Avlis me chamou para produzir “Alice no País das Maravilhas”. Eram sete pessoas no elenco, o custo era alto, e dei a idéia de montar uma peça mais comercial com elenco pequeno para fazer o caixa para “Alice”. Fizemos, então, “Os Três Porquinhos”. Em um mês de temporada, tínhamos mais de 400 pessoas no Leopoldo Fróes por sessão. Um fenômeno para época!

Ainda sem a montagem de “Alice”, Téo José me convida para assumir a direção de “A Revolta dos Brinquedos”. O projeto não andou, mas o Téo me apresentou a César Cavalcante, que foi meu sócio por 15 anos, numa parceria que deu certíssimo. Com essa nova união, começamos as primeiras leituras de um texto que o Téo fez durante 15 anos no Teatro de Arena do Largo da Carioca: “O Coelhinho Pitomba”, de Milton Luís. Montamos “O Coelhinho Pitomba” sem grandes pretensões, mas ao todo foram mais de 1500 apresentações. O personagem do Coelho era fantástico e realmente adorado pelas crianças. Estreamos em 11 de agosto de 1988 no Teatro Leopoldo Fróes, e só paramos há cerca de dois anos (2009), quando o Ricardo Brandão, que fez o personagem por 19 anos, me pediu para parar, pois estava cansado. Só então eu resolvi aposentar “O Coelhinho Pitomba”.

PROCESSO DE CRIAÇÃO

Como diretor, já fui mais exigente. Quando vai-se ficando velho, vai-se ficando menos exigente. Meu processo de criação? Ensaio de dois a três meses e fico quase outros dois meses sentado, estudando o texto, lendo e discutindo cada intenção. Isso é uma coisa chata para os outros, porque as pessoas querem ir logo para o palco. Você sai da mesa com o texto quase decorado, a entonação da voz você também já sabe. E em casa tenho folhas e mais folhas escritas de toda a direção, do movimento, da marcação, posicionamento, sugestão de luz, trilha sonora. A cena, às vezes, se modifica, até por sugestão do ator. Ele pode sugerir, mas a última palavra é minha, porque eu já tenho o espetáculo todo na cabeça.

FÓRUM DE ARTES CÊNICAS DE NITERÓI - FACENIT

O Fórum de Artes Cênicas começou a ser pensado numa conversa informal, entre Mario de Sousa – jornalista e autor teatral – e eu, na Praia de Charitas, em setembro de 2008. Em novembro deste mesmo ano, resolvemos conversar com alguns artistas a respeito de nossas idéias, acreditando que esse era o momento de uma grande reviravolta no teatro da cidade de Niterói.

Ainda naquele mês de novembro conseguimos o auditório da Câmara Municipal de Niterói para a nossa primeira reunião. Por isso, convocamos um grande número de artistas para se encontrarem no dia 26, às 19 horas. Nessa primeira reunião estiveram presentes 23 artistas que discutiram sobre os grandes problemas da classe teatral da cidade, com enfoque principal na total falta de apoio do poder público para conosco. Ao final deste primeiro “papo”, marcamos a próxima reunião para o dia 3 de dezembro, no mesmo local e mesmo horário.

De posse das maiores queixas e reivindicações da classe, iniciei um trabalho de organizar um documento que pudesse representar os anseios de todos nós.
No dia 3 de dezembro, com o comparecimento de 59 artistas interessados na discussão dos rumos do teatro niteroiense, apresentei uma listagem com propostas para uma política pública na área das Artes Cênicas de Niterói. Ao final da reunião, um documento com 21 propostas foi originado a partir de discussões, modificações e ampliações daquelas primeiras que eu havia apresentado. A aprovação do texto final ficou marcada para a semana seguinte, no mesmo local: o Auditório da Câmara Municipal de Niterói.
No dia 10, então, o documento foi mesmo aprovado e assinado por 112 artistas e técnicos que até hoje desenvolvem seus trabalhos nos teatros da cidade.

Nesta mesma reunião os presentes aprovaram a proposta de se fazer do nosso Fórum uma tribuna permanente da classe teatral de Niterói, sendo, então, eleitos os diretores teatrais Antonio Carlos De Caz, Elyzio Falcato e Mario de Sousa, além da jornalista, pesquisadora e autora teatral Lucia Cerrone como seus coordenadores.

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Cia Teatral FALK