descobrir
a criança. Apesar de ter uma coreógrafa assinando
o espetáculo, eu sempre meti a mão na massa.
Acho que quando eu coreografo, eu sou o diretor coreografando,
e então eu estou coreografando os personagens, não
os atores. Por isso tem muito ator que não precisa
dançar. Eu fiz musical muito tempo e nunca dancei.
Quem sempre dançou no meu lugar foi meu personagem.
Sempre cantei com a voz do personagem. Eu sempre falo pros
meus alunos: “quem vai cantar e dançar é
o seu personagem, não é você não!”.
Em "As Desgraças de uma Criança",
de Martins Pena, com direção do Wolf Maia, em
1998, eu vou pra lá como stand in que tinha que fazer
os três personagens masculinos. O que é legal,
é que eu passei um mês no fundo do teatro anotando
as coisas, marcas, tudo que eu tinha que aprender dos três
personagens.
O Wolf não sabe, mas, ele me deu uma aula de direção
durante aquele um mês e meio. O melhor ator é
o observador. Eu não tive aula de nada. Eu aprendi
a dirigir, a escrever e a coreografar vendo; observando.
Eu acho que é isso que essa nova geração
de atores tem que entender. Talvez o novo ator, e é
bom que ele leia isso, tenha a maneira dele de inventar seu
processo de criação, e não achar que
vai encontrar tudo pronto. Eu sou a favor de cursos de teatro
em que o ator experimente.
Quando eu vou montar um espetáculo, eu tenho ele na
minha cabeça, tenho o meu ritmo e trabalho na pressão,
porque é humor, é ritmo. Não pode fazer
cinema dentro de uma comédia. Mas às vezes alguém
surpreende, aí vem jogar junto comigo, cada um traz
a sua identidade, aí eu tenho o desenho da cena, mas
eu vou fazendo outras coisas dentro daquele desenho que eu
tinha já estipulado. Então, na verdade, no início
eu sou meio general, mas aos poucos eu vou sendo generoso,
e no final eu vou virando um ceifador de exageros para que
tenha um ritmo certo.
O espetáculo de Marcello Caridade tem a assinatura
de Marcello Caridade; porque se pingam assinaturas o espetáculo
não ganha uma identidade. Todos podem criar, mas alguém
tem que amarrar no final e assinar embaixo.
As pessoas falam que a função social do teatro
já acabou há muito tempo, mas talvez essa seja
a nova função social do teatro, de levar você
a querer aprender alguma coisa, de resgatar, de entender sua
vida porque que ela é assim.
Na companhia ideal, todos têm objetivos, todos têm
sonhos. Agora, eu tenho que saber se o seu sonho combina com
o meu.
Ator
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